Em “Sob o Vulcão”, uma família ucraniana composta por um pai (Roman Lutskyi), uma mãe (Anastasia Karpienko) e seus dois filhos, interpretados por Sofia Berezovska e Fedir Pugachov, em férias na Espanha, não consegue retornar para casa devido ao início da guerra entre seu país e a Rússia. Na verdade, para ser mais preciso, após o conflito desencadeado pela tentativa de invasão de Vladimir Putin ao seu vizinho. O filme de Damian Kocur, portanto, retrata uma realidade vivida por inúmeras pessoas, uma vez que a incerteza sobre o desfecho persiste até o momento da redação deste texto.
O desespero dos personagens reflete também o dos atores que os interpretam, uma vez que eles mesmos são refugiados, conferindo às suas atuações um imenso grau de realismo. Esse realismo está impregnado na obra através da câmera de Kocur, que acompanha intimamente cada momento, mas sem se intrometer com maneirismos cinematográficos. A preocupação principal dele é mostrar os efeitos da guerra na existência de cidadãos comuns ao mesmo tempo em que evita apelar para o sentimentalismo superficial. Além disso, o filme propõe uma reflexão sobre a condição dos refugiados no mundo, frequentemente acusados de imigração ilegal, sem que suas situações, muitas vezes insuportáveis, sejam consideradas.
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“Sob o Vulcão” é, portanto, uma ficção que poderia facilmente ser um documentário, pois sua matéria-prima é algo que está constantemente nos noticiários. Essa constatação decorre do fato de que sua construção narrativa evita artifícios melodramáticos exagerados. Ou seja, não se deve esperar grandes tragédias ou ações dos personagens que estejam em desacordo com o comportamento de pessoas reais. O realismo captura o espectador, que passa a se identificar com aqueles personagens e a se questionar sobre o que faria em circunstâncias semelhantes. A empatia é, então, gerada, fortalecendo ainda mais a mensagem transmitida pelo roteiro.
Contudo, infelizmente, o cinema não consegue, por si só, sensibilizar aqueles que promovem as guerras. Resta a ele a função de utilizar sua força semiótica para alertar, denunciar e analisar. Ademais, as imagens ficam restritas às telas onde são exibidas e às pessoas que elas alcançam, e entre essas pessoas, certamente não se encontra Vladimir Putin e seus asseclas. Por essa razão, “Sob o Vulcão” desempenha bem seu papel de fazer ficção com tintas de realidade para que o seu impacto emocional fique registrado em cada um dos espectadores.
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Este filme foi visto durante a 48 Mostra Internacional de Cinema em São Paulo
Imagem em destaque: Divulgação
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