Produzido pela Wallaroo Corp, “Solanas Explicado às Crianças” retrata as dores de uma comunidade de pescadores ameaçada e a resistência comunitária de seus líderes
Em um mundo cada vez mais acuado em termos de desrespeito e abuso do meio ambiente uma das profissões mais ameaçadas, é a dos pescadores artesanais.
Sim, aqueles que acordam e se lançam no mar antes do sol nascer, com seus barcos e redes feitos na maioria das vezes por suas próprias mãos, para que possam colocar os melhores pescados nas cozinhas dos restaurantes litorâneos e da sua própria mesa para alimentar suas famílias.
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Porém, é cada vez mais comum a mineração perto de rios e mares que despejam litros e mais litros de produtos químicos que ameaçam a fauna marinha, isso quando não há nos caminhos desses pescadores barcaças com redes imensas que arrastam toneladas de peixes e deixam somente os mais minguados justamente a quem mais cuida de região e se dedica de toda forma possível a defender seu sustento, seu ganha pão.
E é nesse registro que “Solanas Explicado às Crianças”, dirigido por André Queiroz, baseado em uma hipotética visita de Fernando “Pino” Solanas, cineasta e político argentino, a uma vila de pescadores, segue a história de uma família local composta pelo pai, interpretado por André Ramiro (“Tropa de Elite 1 e 2”), a resiliente e compadecida mãe, a surpreendente e sensível atriz Dani Câmara e Pino, o filho nomeado como homenagem à Solanas, resultado dessa união regada à luta, resistência e doutrinação desde pequeno para que reconheça sua classe e se tornar naturalmente um líder da comunidade disposto a tudo pela sobrevivência dos seus.
O filme é pródigo em discursos e palavras de ordens que, embora anacrônicos, ironicamente são os únicos exemplos de pensamentos que temos hoje em dia em termos latino-americano de consciência de classe, inclusive com passagens fílmicas de discursos de líderes rebeldes exibidos em uma tela branca, dentro de uma biblioteca que passa pelos olhos do pequeno Pino e é fundamental para sua formação futura.
Com imagens bucólicas, filmadas ao longo do litoral de Niterói, nem tudo é luta na película que separa, e muito bem, espaço para o afeto, que é nítido na força da mãe interpretada por Dani Câmara e que traz registros emocionantes de luta, cuidado e resignação, junto à Paulo Guidelly fisicamente imponente como o Pino da fase adulta, com um plano sequência que dura impressionantes 27 minutos(!) num indo e vir com uma mistura poderosa de aconchego e desapego que pode determinar o futuro do líder comunidade, visto à luta que tem pela frente e o iminente levante programado em alguns dias em mais uma luta visando a sobrevivência.
Ainda nesse “confronto final” entre mãe e filho, há um grande bônus numa cena que, conforme entrevistas com o diretor André Queiroz, emula e subverte uma clássica no final do filme “Eles Não Usam Black Tie” de 1981, com as lendas da dramaturgia brasileira Fernanda Montenegro e Gianfrancesco Francisco Guarnieri diante da catação de arroz, que no filme é substituído por feijão e com a diferença que em Solanas nada ainda está resolvido, há apenas um presságio, mas que mesmo assim compõe uma bela homenagem histórica e cinéfila da produção ao cinema brasileiro.
As cenas do elenco em conversas que trazem companheirismos entre os desvalidos e lembranças ancestrais dos velhos tempos mostram a dimensão das mudanças do tempo, da precarização cada vez mais avançada das condições de trabalho e o descaso de representantes políticos que nunca ajudam e muito menos agem de acordo com o interesse de quem os colocou no poder.
A falta é de algum registro sobre o que exatamente aflige essa comunidade, em que não há nenhuma cena do mal feito da natureza pelo que eles lutam, porém, como uma mídia visual como o cinema, poderia haver um registro complementar que não dependeria somente da nossa ciência do estado das coisas que sabemos existir, mas ajudaria engajar a audiência cada mais para dentro da luta da comunidade que se apresenta nas telas.
Pois não há nuances, só o forte discurso pró comunidade e anti-sistema numa luta tão desigual tanto dos personagens do filme como da natureza, sujeitos aos caprichos do capitalismo, que nessas situações arrastam recursos naturais e vidas numa espiral de exploração e destruição que no momento, não parece melhorar nem ter fim.
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Mas o filme compensa essa lacuna com uma de muitas histórias de luta de comunidades ligadas à preservação da natureza e sobrevivência, e que precisam cada vez mais serem trazidas para as telas nesse país de tamanho continental, tão cheio de desigualdades e do qual “Solanas Explicado às Crianças” traz de forma às vezes lúdicas, às vezes em forma de resistência. Uma obra para nos lembrar e fazer pensar de qual lado estar em termos de trabalho precarizado, luta de classes e cuidado com o meio ambiente.
Imagem Destacada: Divulgação/Walaroo Corp.

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