O primeiro longa-metragem em forma de documentário de Ana Costa Ribeiro como diretora, estreia em 10 de outubro com uma história que mistura a importante história da descoberta científica de um proeminente físico brasileiro, com as divagações sobre suas percepções sobre relações familiares que fazem parte de sua vida.
O fenômeno natural chamado de “Termodielétrico“ que dá nome ao filme foi descoberto por Joaquim da Costa Ribeiro (avô da roteirista e diretora ) que revelou ao mundo como a mudança do estado físico é capaz de eletrificar um material, é que coincidentemente e intencionalmente o que formata à obra que assistimos.
Relações e correlações entre as matérias nos são apresentadas como a elucidadora informação de que a cera de carnaúba é o que permite a observação do fenômeno, também passa por entre figuras históricas como a espetacular cientista Marie Curie, vencedora de dois prêmios Nobel pelos estudos da radioatividade que inclusive esteve no Brasil, e continua com as viagens do seu avô pelo mundo e que causaram tanta saudade aos familiares.
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O filme é imerso em diversas imagens de arquivo em sua maioria estáticas, como se a diretora nos guiasse pelo tempo nos pedindo para prestar atenção em tudo que está ao redor e circunda o filme, conduzido pela música interessante e inquietante do coletivo O Grivo, que cria sons dissonantes e curiosos em muitas das imagens apresentadas.
Tudo isso teve como origem arquivos da família herdados do pai da diretora que contém filmes no formato super 8, fotos e fotogramas que registraram toda a épica história da família e que é transposto à tela com muitas citações poéticas, que nos faz refletir no que vemos ao longo da projeção, transcendendo ciência, música e emoções, transbordando afeto por uma memória familiar narrada em primeira pessoa que impressiona pelo tom monocórdico.
Esse afeto pelo avô que não conheceu senão por esses materiais resgatado, se estende pelos nove capítulos em que o filme é dividido e falta somente um pouco mais de sentimento não somente pelas figuras maternas que junto com escritas de sua avó conheceu pelas cartas.
Falta também uma tentativa de deixar essa ciência tão curiosa com apelo um pouco mais convidativo, o que poderia expandir a obra além das memórias pessoais e exponenciar a recuperação de uma figura tão importante na ciência do nosso país como seu avô, em um momento que esse estudos importantíssimos pelo qual alcançamos tantos progressos, tem sido vilipendiado, ignorado e afrontado por negacionistas que bizarramente ocuparam cargos em governos passados, que deveriam ser ocupados por especialistas.
Essa falta é um tanto compensada pela maneira metafórica e poética que a diretora invoca por suas imagens e sons, nos levando a um verdadeiro túnel do tempo em uma época que os brasileiros imaginavam que tudo era possível.
A importância dos estudos de Joaquim da Costa Ribeiro nos é confirmada quando a diretora o contextua junto a um tempo em que as bombas americanas viabilizadas por Robert J. Oppenheimer, foram lançadas no Japão e deflagaram uma verdadeira corrida para desvendar os mistérios de radioatividade e dos choques entre elétrons e átomos que permitiram descobertas magníficas mas também trágicas para humanidade.
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E é nesse exercício carinhoso da lembrança de um familiar que é um cientista brasileiro proeminente, por uma história de vida marcada pela distância, que o filme nos aproxima da humanidade de descobertas tanto dos sentimentos da uma cineasta, quanto das maravilhas que a ciência pode nos proporcionar.
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