Queria entender como fui me prender assim. Não tem corrente mais forte que a inércia. Ou comodismo. Aquele costume de sentir dor mas não se mexer, enquanto digo ao mundo que é resiliência.
Foi tudo de um início intenso e colorido pro que eu dava em minha vida como morto e monótono. Uma vontade que passava por cima dos problemas materiais e os demais. Mas a tendência da balança foi pesar mais pro meu lado em algum momento e o outro, que nem se importa. Está leve, flutuando, e dizendo que a causa é estar carregando todo peso do mundo. Que mentira!
Uma farsa de atlas, farsa atlética (!), pra dizer que a culpa é de algo fora de seu controle. Tirar a culpa, a escolha em favor de uma vaidade que não te deixa assumir que tipo de pessoa realmente és. Ninguém quer ser o vilão, queremos ser atlas!
O falso atlas me dizendo que sua vida é uma mentira, que é um sacrifício, que é uma batalha, pra diante do mundo e da novidade, ser quem eu conheci uma vez. Atlas, que na verdade é um vampiro, pra sugar a novidade e projetar para seu alvo tudo em que ele o transformou. Ele finge que seu mundo agora está em preto e branco pra justificar as sobras que deixou, as migalhas de atenção. Atlas diz que é uma espécie de depressão, mas ele só quer algo novo e excitante pro sábado à noite.
E eu, aqui, preso por escolha. Me digo que é fase. Me digo que é melhor que solidão. Mas já estou abandonado. Me faço um verdadeiro atlas, carrego toda dor do mundo, me digo que não há nada melhor para fazer.
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