Esta é uma resenha para o terceiro livro de uma trilogia. Acesse também o review do primeiro, “Mr. Mercedes” aqui e do segundo, “Achados e Perdidos”
A trilogia Bill Hodges traz o que Stephen King sabe fazer de melhor: combinar suspense e terror a situações inusitadas e personagens carismáticos, em torno de uma luta interna ou externa do bem contra o mal. O consagrado autor é conhecido por não prender-se a um planejamento, contando a história da forma mais espontânea possível, e, assim, muitas de suas tramas podem tomar rumos completamente inesperados, tirando o leitor da zona de conforto.
“Último Turno” traz o suspense sobrenatural para a trilogia. Infelizmente, tal escolha anula o diferencial das histórias de Bill Hodges do restante da obra de King. A ausência de sobrenatural era uma abordagem interessante de se observar e foi o que manteve a sensação de novidade nos volumes anteriores. No entanto, o autor usa o sobrenatural de forma tão criativa, que funciona maravilhosamente bem, além de ter sido já meio que antecipada em poucos trechos de “Achados e Perdidos”.
O último livro da trilogia traz um detetive – Bill Hodges, aos 70 anos de idade, tendo que lidar com uma frágil saúde e uma inexplicável série de suicídios aparentemente ligados à Brady Hartsfield, o inesquecível antagonista em “Mr. Mercedes”. O que Hodges não sabe é que durante todos os anos que se passaram desde então, o ex Assassino do Mercedes desenvolve acidentalmente poderes telecinéticos, usando-os para controlar as mentes de suas vítimas.
Durante os primeiros livros, ficamos acostumados a ver Hodges lidar com os problemas que se apresentam contando com sua vasta experiência como detetive, mas desta vez ele sente, mais do que nunca, o peso de suas limitações físicas. Isto ressignifica todas as suas relações: desde sua amiga e parceira de trabalho, Holly, e até com seu inimigo, Brady.
A narrativa, neste volume, não muda: há capítulos conduzidos do ponto de vista de Hodges e Brady, e a mesma sensação de corrida contra o tempo em que o herói tenta deter vilão e vilão tenta vencer herói. Neste volume, há poucos personagens novos e tanto estes quanto os antigos continuam bem construídos e humanos como sempre.
O destaque absoluto neste livro são os capítulos com Brady. O leitor poderá entender como ele adquire e aprende a controlar seus novos poderes, e, melhor ainda, ver como ele os utiliza em suas vítimas. Enquanto a violência de King não é necessariamente descritiva e gráfica, ela é extremamente psicológica. A forma como o vilão conduz suas vítimas ao suicídio é impiedosa, inquietante e tão prazerosa quanto difícil de ler.
Um ponto negativo que quase arrisca a brilhante construção dos personagens é a inconsistente aceitação da existência poderes telecinéticos. Quando há alguma resistência à possibilidade de que há alguém usando poderes mentais para controlar pessoas, num momento isto não é questionado, para no momento seguinte ser, mas depois não é… Em poucas palavras: fica confuso.
O ritmo acelerado também prejudica um pouco da satisfação – ou perplexidade, raiva, tristeza, alegria – que o leitor poderia obter da conclusão da trilogia. O ritmo cresce com a evolução da trama, e poderia diminuir um pouco no final, pois fica corrido demais.
Com vários acertos e poucos erros, “Último Turno” termina sendo, por matemática, o livro mais fraco da trilogia, mas ainda a termina de forma correta e certamente deixando muitos leitores com saudades de personagens que somente Stephen King sabe criar.
“Último Turno”
Stephen King
Tradução: Regiane Winarski
Editora: Suma de Letras
384 páginas
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Fiquei órfã. Eu disse…
Fiquei órfão de cada personagem, inclusive do Brady!