“Verdades Secretas 2” ou a continuação que ninguém precisava

Em 2015, “Verdades Secretas” chegou na faixa das 23h da Globo com uma trama central envolvente, centrada na entrada do mundo da moda da personagem Angel (Camila Queiroz), uma menina do interior que vai em busca de seus sonhos e se depara com fama mas também com toda a dor que a vida de modelo pode trazer. Além disso, alguns arcos secundários foram muito bem explorados. O texto a seguir contém spoilers!

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A forte presença das drogas no mundo fashion com a personagem Larissa (Grazi Massafera, indicada ao Emmy Internacional pelo papel) e a jornada de ambição de Anthony (Reynaldo Gianecchini) e Fanny (Marieta Severo), a dona da agência que sobrevive às custas do tal book rosa – rede de prostituição chique para conseguir vantagens para seu negócio mas também para as modelos. Tanta ousadia foi reconhecida com o Emmy Internacional de Melhor Novela.

Roteiro cheio de incoerências e direção equivocada

Mas em “Verdades Secretas 2“, a aguardada sequência que saiu na Globoplay, quase nada deu certo. Em primeiro lugar, o roteiro de Walcyr Carrasco foi um show de incoerências. Descaracterizou personagens, foi cafona e transformou a pegada sensual da novela em um pornô chique.

Em segundo lugar, a direção geral de Amora Mautner, que substituiu Mauro Mendonça Filho, foi igualmente desastrosa. Fotografia escura em boa parte do tempo, e o destaque para alguns hábitos dos personagens foi uma bizarrice sem fim. Um exemplo disso foram os previsíveis socos de Cristiano (Rômulo Estrela) na porta, as dancinhas ridículas de Giovanna (Agatha Moreira) e a mania obsessiva de beber leite de Angel, que ninguém sabe de onde saiu. Isso sem falar nos figurinos, tão absurdos que nem dá para explicar.

Personagens muito prejudicados pelo roteiro

Os atores se empenharam nas atuações mas pouco puderam fazer diante de um roteiro tão perdido e, mas uma vez, cafona. Giovanna, a livre e vaidosa menina do folhetim de 2015, fica obcecada por vingar a morte do pai, de quem nunca foi próxima, enquanto nutre uma obsessão sem sentido por Angel.

A protagonista, por sua vez, teve seu rumo completamente modificado. O final triunfante da primeira temporada foi jogado no lixo. Livre de Alex, Angel agora é uma viúva falida chantageada por dois homens, Cristiano e Persi (Gabriel Braga Nunes). Tanta chantagem tem como motivação salvar a vida do filho, numa tentativa de mostrar Angel como a boa mãe que nunca havia sido.

O Persi de Gabriel Braga Nunes é um personagem extremamente polêmico. Embora o ator atue com intensidade, a construção do personagem adepto do BDSM, reforça uma série de estereótipos, passando a imagem de que quem curte fetiche é psicopata. Um verdadeiro desserviço.

Um show de close errado

Visky (Rainer Cadete) é quem menos sofreu com os rumos da história. Com um protagonismo maior na sequência, é esse o personagem que está por trás das grandes conspirações e negociatas. Mas nem tudo são flores: ainda que tenha motivado a importante discussão sobre a família não tradicional, partem dele as piadas gordofóbicas, e o incentivo à prostituição como se fosse a alternativa mais glamorosa de se ganhar dinheiro.

A prostituição, inclusive, ganha um novo contorno na continuação. Em “Verdades Secretas” o tal book rosa era intermediado pela agência e acontecia de forma ocasional, sendo extremamente lucrativo para ambas as partes. Agora, é mais um bico ou uma forma das modelos ganharem dinheiro enquanto não aparecem trabalhos. Isso tudo muitas vezes sem qualquer participação da agência, embora o nome book rosa ainda seja usado.

A personagem Lua (Júlia Byrro) foi inventada para ser mais uma a atrapalhar o caminho de Angel. Nos primeiros capítulos, a meia irmã do falecido marido (Gui, papel de Gabriel Leone) de Angel parecia que seria mais uma vilã na história, mas se limitou a carregar para cima e para baixo o relógio de Gui que continha os códigos para tirar Angel da falência. Sem sal e esquecível.

Arcos secundários estão entre os poucos destaques positivos

A novela só teve de bom dois arcos secundários. O primeiro sem dúvidas é o de Blanche (Maria de Medeiros), Ariel, (Sergio Guizé) e Laila (Erika Januza). Obcecada pelo amor de Ariel, Blanche – a nova dona da agência – vicia Laila em anfetaminas com a promessa de que assim ela conquistaria a boa forma para voltar ao mundo da moda. Após a morte de Laila em consequência do abuso das drogas fornecidas por Blanche, Ariel parte para uma vingança contra sua amante. Essa história talvez seja a única que prendeu o espectador em frente ao sofá.

Outra boa história, que trouxe uma certa leveza para “Verdades Secretas 2”, foi a do jovem modelo Matheus (Bruno Montaleone). Ele conseguiu a proeza de transar com uma família inteira administrando muito bem a situação, o que deixou muita gente curiosa pelo desfecho.

Por fim, precisamos falar dos três últimos capítulos. Ficamos animados com o penúltimo capítulo, onde Angel e Giovanna têm uma tórrida noite de amor e tudo indicava que viria (enfim) uma libertação para Angel com alguma mensagem de empoderamento feminino. Contudo, parece que Walcyr Carrasco não queria mesmo ver os espectadores felizes e isso não se concretizou. Ao invés disso, ganhamos dois finais terríveis aos quais precisamos escolher. Foi a tampa do caixão de “Verdades Secretas 2”, que já sabemos terá mais uma continuação. E tudo indica que será ainda mais desnecessária que essa.