“Vidas Passadas” é um dos lançamentos mais aclamados no Festival do Rio 2023. O filme conta a história de um casal de amigos coreanos que acabam se esbarrando duas vezes ao longo de 24 anos e refletindo sobre a relação deles como um amor tão impactante que possa ser algo que aconteceu em outras vidas que se passaram. Claro, essa última parte como uma metáfora.
A emoção que arrebatou muitos dos presentes na sessão para a imprensa, lembra bastante o filme italiano “Nostalgia”, dirigido por Mario Martone e protagonizado pelo famoso Pierfrancesco Favino. O longa aborda a história de um homem que precisa voltar a Napoli, sua terra natal, para encontrar sua mãe e enfrentar pendências de seu passado.
Além do longa citado, no decorrer da sessão, outras produções surgem facilmente a cabeça. Live-actions da Disney, séries de um mesmo universo apresentadas a poucos anos atrás (vide “Game Of Thrones” com “A Casa do Dragão” e “Breaking Bad” com “Better Call a Saul”), cinebiografias, etc. Com a era dos filmes de super heróis entrando em defasagem desde “Vingadores: Ultimato”, a necessidade do espectador por prazeres do passado continua sendo um dos principais chamarizes de bilheteria.
Mas o que isso tem a ver com “Vidas Passadas”?! Por incrível que possa parecer, quase tudo. Não só sua estrutura, mas a narrativa em si. A ideia de um casal de amigos de infância apaixonados, que acaba se encontrando 12 anos depois, e só passados 24 anos se veem presencialmente, é uma boa exemplificação dos espectadores da atualidade.
A necessidade de ver filmes que falem de uma época que para nossos pais foi “mágica” e, agora, a nova geração querendo repetir esse êxtase, que é vendido de forma barata e desleixada em 80% dos produtos distribuídos nos últimos anos. O carecimento de retrospectivas de narrativas já entregues tantas vezes nos anos 80, até mesmo no sentido estético como é feito em “Stranger Things”.
“Vidas Passadas” não é apenas mais um filme com uma execução belíssima por sua proposta, mas é também um efeito de resposta a uma nova leva de espectadores que precisam sentir o efeito de “nostalgia”. Seria tão pessimista a visão de futuro dessa humanidade atual a ponto de precisar consumir, de toda forma possível, um passado (passado esse que muitos nem viveram)? Não tem como se ter uma resposta exata, mas chega a ser algo infelizmente plausível.
“Vidas Passadas” é quase como uma resposta de uma psicóloga para seu paciente: Às vezes a vida é assim, não temos muito controle sobre ela e não podemos fazer nada sobre isso. Até porque isso significa VIDA, algo que os espectadores estão se esforçando ao máximo para não reconhecer que vivem nela. Nesse momento, “Vidas Passadas” carrega a importância de ser lançado e ser assistido pelo o máximo possível de pessoas.
Além disso, a produção se passa em 3 países e mostra que essa resposta não é só para um público de um lugar específico, mas uma resposta à todo povo ocidental. Assim como em “Casa Blanca“, onde existia uma esperança na fala do personagem de Humphrey Bogart: “nós sempre teremos Paris…”, em “Vidas Passadas” isso não existe mais. Existe simplesmente caminhos separados, e sem nenhuma promessa de algum futuro brilhante pela frente de ambos os protagonistas.
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Seria essa uma das repostas do porquê tantos espectadores estarem amando “Vidas Passadas”? É possível que a emoção do espectador esteja intricadamente ligada pela noção da realidade que cada um de nós está vivendo no mundo ocidental? Não existe uma conclusão exata disso por agora, mas é uma luz chamando o espectador para fora dessa caverna de nostalgia que tantos parecem estar precisando ultimamente.
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