No final de setembro amarelo, não poderia deixar de chamar a atenção para essa artista e de que maneira ela se comprometeu em nos ajudar.
Selah Sue é uma cantora nascida na Bélgica, no final dos anos 80. Se considerarmos o fato dela ter nascido na Bélgica e ser conhecida no Brasil a ponto de ter participado de uma edição do Rock in Rio, podemos dizer sim que ela é muito famosa. De fato ela conquistou um sucesso internacional. Ficando muito conhecida por suas primeiras músicas lançadas, como Raggamuffin, Crazy Vibes e This World, que a ajudaram a vender mais de 700.000 mil cópias do seu primeiro CD. Para quem curte de música no estilo soul, jazz, hip-hop, ragga, eletrônica, gostará facilmente do trabalho dela. E não é pra menos, é uma artista extremamente comprometida com a arte, o que faz com que ela naturalmente seja boa e profissional no que faz. Mas indo além, independentemente dos estilos e vertentes musicais que encontramos na música da Selah Sue, também nos deparamos com uma mensagem que precisamos entender e esclarecer sempre que necessário. Sua carreira foi atravessada pela depressão e ela retrata musicalmente que sentimentos teve que experimentar por causa dela. Precisamos falar sobre depressão!
Os sintomas da depressão são severos. Como se de repente, simplesmente, não houvesse mais motivação para sair de casa e trabalhar. Também fica muito difícil se concentrar, o que faz com que seja complicado estudar, além disso existe a ausência de capacidade de demonstrar e sentir afeto. Algumas vezes causa muito sono, outras não. Traz sintomas físicos, que não são explicados em exames nem em consultas médicas. Mas para cada sintoma desses, já são dadas explicações mentalistas (como “preguiça” e “falta de interesse”) e que na maioria das vezes faz com que o portador da doença se sinta pior por sentir o que está sentindo. Tornando difícil a compreensão da real dimensão do problema e a possibilidade de chegar a uma cura.
O tempo todo, querendo ou não, ouvimos músicas que falam de noitadas, casos de amor, viagens e tantas outras coisas que são boas e fazem parte da vida. Elas tocam bastante nas rádios, e dali pra festas que seguem a tendência e, mais à frente, elas vem ao nosso consciente nos dizendo que a vida é isso. Mas e se simplesmente pudéssemos ouvir músicas muito boas e que também trazem a tona problemas muito mal interpretados como a depressão? Certamente nos ajudaria a aceitar e entender como isso faz parte da vida. Selah Sue é comprometida com a parte da música boa e a parte de falar abertamente sobre um mal psicológico que faz refém tantos portadores. Ouvindo suas letras e prestando atenção, vejo uma artista falando sem medo a sua visão do mundo. Visão essa que é logicamente mutável. Mas independente dela ser boa ou ruim, é o que faz sentido e é o que precisa ser dito e cantado. Funciona assim com pessoas que são ótimos profissionais da música e também artistas.
Como toda doença, ajuda muito se o portador tiver a possibilidade de contato com outras pessoas que já passaram por todo o processo da depressão. Ela é assustadora, não só pela sua natureza, mas também por tanta falta de informação, fruto de gerações preconceituosas e negligentes. “Mommy”, do seu primeiro álbum, é uma faixa, a meu ver, extremamente preciosa. Nessa música ela apenas agradece por ter alguém que a socorreu e sempre a socorrerá em momentos que pensa que o medo irá sucumbir. Em “Falling out”, do seu segundo álbum, ela canta sobre um estágio da sua doença em que fala da escuridão a sua volta, sabendo que é criada pela mente, sem negligenciar as belezas da vida muito menos ser ingrata por ela. Sem esquecer de mencionar, é claro, um post que a mesma fez em seu Facebook em dezembro do ano passado após um show. Relatou um episódio de pânico no qual o público de 8.000 pessoas que estavam contentes e festejando com sua música, se tornaram extremamente assustadores devido a ansiedade que muitas vezes, caminha junto a depressão. Ela só queria fugir correndo de todas aquelas pessoas e de toda aquela responsabilidade, ela disse em seu Facebook. E inclusive, importante dizer, que no começo do relato, ela relata que considerou a ideia de falar do show como se fosse uma experiência ótima, mas ao invés, disse o que aconteceu de fato e como foi difícil pra ela. No mesmo, conta uma experiência após um show em que pôde conversar com outros jovens com alguma condição psicológica atípica e de como essa experiência foi engrandecedora em sua vida. E eu acredito que para todos que viveram juntamente a Selah.
Nós nos deparamos com relatos em que o artista e músico tem que escolher seu “lado”. Ela poderia ter falado que foi ótimo, falar isso e aquilo do público e acabou. Mas ainda com dificuldades e relutante, ela nos disse, em suas próprias palavras a sua luta contra a doença. E também o quão rica é a troca de experiências, para todos os envolvidos.
Depressão agrega sintomas físicos e muito além. Tristeza duradoura, embotamento afetivo, ansiedade, incapacidade de realizar diversas atividades. Se isso é algo tão devastador, como pode ainda ser considerado louco, de maneira pejorativa, a pessoa que consegue obter ajuda dos profissionais indicados? Psicólogos e psiquiatras. Esse é um pensamento medíocre, preconceituoso e sem fundamentos. Apenas atrasa a chegada da cura naquela pessoa que perdeu o emprego e não consegue mais enxergar outras possibilidades de prosseguir. Estamos no final de Setembro, mês de conscientização sobre o suicídio e ainda não entendemos quase nada sobre seres humanos, mas estamos buscando. Quanto mais pessoas conseguirem falar o que estão passando, como falam nos primeiros sinais de uma gripe, mais possibilidades têm de entender e resolver as coisas antes de dar-se o ponto final ao sofrimento dessa maneira letal. Abram seus ouvidos e suas mentes.
Por Letycia Miranda
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