Animação não está ruim como alardeado, mas trama de “Winx” insiste em intensificar velhos erros
As fadas mais queridas da cultura pop estão de volta para o tão antecipado reboot da série em “Winx: A Magia Está de Volta”, que estreou nesta quinta-feira (02) como exclusivo Netflix. Nós assistimos os 13 episódios e viemos contar um pouco de nossa experiência, sem spoilers, como de costume!
Ah, céus, e lá vamos nós.
Fazer uma review de série infantil é sempre delicado: tanto há o perigo (e acusações) de soar pretensioso ou condescendente, quanto se pode mexer com a memória afetiva em se tratando de um projeto que visa mexer com a nostalgia, como é o caso. Apesar de eventuais comparações serem inevitáveis, este artigo pretende se voltar a nova série como um novo material, que não tem o dever de se aproximar com a antiga animação.
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Feita essa introdução, é preciso recapitular que o reboot, desde seu anúncio, não tem sido bem recebido na — ainda muito ativa — comunidade de fãs da franquia. Para além de reclamações ao longo dos anos que giram em torno de decisões do estúdio Rainbow em estender a obra por dinheiro — o que é o caso também — o uso de inteligência artificial, a não transparência com seu uso, além da crítica aos modelos, com design igualmente criticados, foram o tempero para alimentar a desconfiança do que estava por vir.
Olhando o resultado final, no entanto, não é motivo para todo esse alarde. Façamos antes uma breve pausa para falar da trama: Bloom é uma garota da Terra que viva na fictícia cidade de Gardenia com seus pais Mike e Vanessa. No dia do seu 16º aniversário ela descobre que tem poderes mágicos ao interferir na batalha das fadas Stella e Flora contra um monstro perto de sua casa.
Esse primeiro episódio é bem a síntese desse novo projeto: é muita coisa acontecendo sem desenvolver bem, inquietações que se arrastariam por episódios no original aqui são resolvidas num passe de pó de fada: Bloom descobre suas habilidades e vai estudar eu uma nova escola longe de tudo, e seus pais simplesmente aceitam de bom grado — pouco depois descobrimos que eles sempre souberam de seus poderes (!).
Gasta-se menos tempo com detalhes que fazem a diferença para a ambientação, quase como uma fanfic em que a garota vai para Londres e conhece o Harry Styles esbarrando numa cafeteria enquanto ajeita seu coque-frouxo; ao mesmo tempo muita informação é dada, porém não se dá ao espectador tempo de se afeiçoar aos personagens.
Em contrapartida, tramas tidas como “futuras” são introduzidas mais cedo, um ótimo acerto para amarrar as coisas melhor, como é o caso da aparição de Diaspro, namorada de Sky, o interesse romântico de Bloom, e um dos especialistas.
Perfeita oportunidade para falar do elefante na sala: aqui, uma grande guerra entre trevas e luz ocorreu, culminando com a destruição da Torre Nebulosa, academia das Bruxas, forçando elas a dividirem espaço com as Fadas em Alfea, que agora conta com duas diretoras: Faragonda e Griffin. Os rapazes continuam estudando técnicas de combate não relacionadas à magia, são os Especialistas que há pouco mencionamos.
Essa divisão binária era questão de discussão desde os primórdios da saga, e no remake temos um acerto positivo, ainda que tímido: garotas podem ser especialistas, como a assistente de Faragonda, Robin, e rapazes podem ser fadas/bruxos, como ocorre com Damien, um dos novos protagonistas.
Contudo, mal se vê isso em prática senão pelos únicos dois casos mencionados; em termos de construção de mundo soa apenas como um precedente dado com muita má vontade aos fãs, sem esforço para desenvolvê-lo melhor. São mudanças com um ótimo frescor, mas que perdem a força no desejo de manter tudo em uma caixinha.
Uma das mensagens que a série quer passar é justamente buscar seu próprio caminho, mesmo que ninguém tenha tentado, ou que isso vá contra o que seus pais planejaram para você; as tramas de Stella, e sobretuto Aisha, são adiantadas, entretanto, novamente é tudo resolvido num piscar de olhos sem a profundidade dos roteiros que Iginio Straffi já se mostrou capaz de entregar. Para não dizer que não são só tentativas, vale nossa menção honrosa para o excelente arco episódico abordando os perigos de encontrar estranhos da internet (episódio 10).
Outro problema, é que as coisas são muito literais, como se seguissem o be-a-bá da Netflix para espectadores passivos em tempos de multitasking. Comparado a mesmo “Winx” (2004) e, sobretudo, “Huntik” (2009) do mesmo autor, soa uma grande ofensa a capacidade do telespectador jovem em acompanhar uma história sem que ela seja completamente mastigada. Abaixo, deixamos um exemplo disso retirado da série.
“A verdade, Bloom, é que você x” “Eu tenho um x?” “Sim, você tem um x”.
Diálogo de Bloom com Daphne no episódio 11.
E isto vale para acreditar que o público não tem capacidade de questionar de problemas já existentes na série OG, aqui intensificados: Diaspro e Sky estavam em um casamento arranjado, aqui ele a namora por vontade própria e poderia terminar com ela quando quisesse, com Bloom tentando dar em cima dele mesmo sabendo de seu compromisso, mas a série quer tornar Diaspro detestável como argumento de que isso seria certo. Outra gritante é a dicotomia “bruxas são ruins, fadas boas”, que é questionada muito porcamente outrora, e aqui isso sequer é posto propriamente em cheque.
E então há as Trix, que na temporada um eram uma grande ameaça e foram se tornando lacaias atrapalhadas de pouco valor e pouco perigo oferecido. Aqui, nem sequer oferecem muito perigo, e seus desmandos por debaixo do nariz das diretoras nem sempre é devidamente punido e, de praxe, estão por trás de um novo vilão: Vexius, um amálgama masculino de outros antagonistas do original, mas cujo pano de fundo é posto de lado, o que torna difícil criar uma mística por trás de sua figura. Uma pena!
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A animação está ok, não das mais inventivas. Falta coreografia nas lutas e melhor explorar o aspecto ícones fashion das protagonistas, que sempre fez parte da franquia. Há momentos de inconsistência que soam puro pelo em ovo de nossa parte, mas como diabos a cor do cabelo de Griselda parece loiro em uma cena e ruivo na outra? Fica até difícil rebater as acusações de “AI slop”.
O retrospecto, contudo, é positivo. Muitos dos problemas apontados já existiam anteriormente, embora fossem mais pontuais e se despontassem mais conforme a série se estendia além do planejado. Há material para muita trama, e sobretudo criatividade para se botar em jogo.
Esperamos que a próxima leva de 13 episódios explore melhor as outras garotas, e que isso não tenha que vir sempre atrelado a figura de Bloom. Certas coisas que funcionavam em 2004 não servem mais para o público de 2025, mas isso já é outra conversa.
“Winx Club: A Magia Está de Volta”. Imagem Destacada: Divulgação/Netflix

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