Favorito ao Oscar de Melhor Filme Internacional, “Zona de Interesse” traz uma perspectiva diferente dentre a grande maioria dos filmes, de um período específico na segunda Guerra Mundial.
Essa história se desenvolve pelos olhos e realização do diretor Jonathan Glazer, e do ponto de vista da família abastada de um militar em ascensão no exército.
Um homem patriota, que reside em uma enorme propriedade, cercada de jardins povoados por árvores, frutas, legumes e até uma grande estufa que sua esposa, recatada e do lar, idealizou e tem o maior orgulho de mostrar a sua mãe e a todos que os visitam.
Essa família possui a sua disposição, um corpo de empregados totalmente disponíveis e dóceis, prontos a lhes prover os menores caprichos a qualquer hora do dia.
A propriedade é entrecortada por um rio em que os pais orgulhosos, levam seus filhos para nadar, pescar e à tardinha, retornam ao lar repleto de sorrisos e brincadeiras.
Tudo bem limpo, organizado, opulento, porém há um problema…
Essa abastada construção, está exatamente ao lado do campo de concentração de Auschwitz, o principal matadouro de judeus e outros povos menos afortunados, alimentado pela máquina de guerra e insensibilidade humana, perpetrado na época da segunda Guerra Mundial pelos alemães nazistas, no terrível período do Holocausto.
Representante do Reino Unido na premiação mais cobiçada do Cinema, traz uma novidade em termos da forma de contar essa história tantas vezes revisitada: não mostra os horrores do campo de concentração, mas ao longo de todo filme, se ouvem tiros, gritos, súplicas, o barulho infernal de fornos, câmeras de gás trabalhando incessantemente e fumaças saindo das chaminés, anunciando mais uma atrocidade que nunca tinha fim nesse lugar de perdição e destruição.
Durante o filme, nos deparamos com uma fotografia esparsa, fria em que os enquadramentos são bem compostos e alguns, principalmente os de contemplação e confraternização dos personagens, são milimetricamente centralizados, dando a impressão de um local idílico.
É aí que essa obra beira à genialidade, pois o diretor não toma nenhum partido sobre o que se passa na tela, não julga nenhuma ação ou personagem, apesar de toda aquela situação horrível estar exposta para todos, tanto dentro do filme quanto a quem o assiste e não deixa nenhuma dúvida do que se passa.
O ponto é que realmente no filme e na retratação acurada daquele lugar, ninguém se importa com nenhuma outra vida, que não os do seu entorno e de ações que levam ao seu próprio benefício e ascensão.
Ninguém na sua maioria, está disposto a perder seu tempo pensando no que ocorre ao seu redor e é impossível calar, pois os sons e sensações estão todas ao redor.
Mas naquele lugar e no período em que se passa, quem se importa?
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Embora nas muitas críticas sobre o filme, se fale e mencionem o conceito da filósofa Judia-alemã Hannah Arendt, é imprescindível rememorar um pouco do que ela chamou de “A banalidade do Mal“: chamada para assistir e escrever sobre o julgamento de Adolf Eichmann, um dos responsáveis pelas maiores atrocidades cometidas no Holocausto, explicando resumidamente, constatou que para ele eram simples cumprimento de ordens, seria ”totalmente comum” realizar aqueles atos hediondos, que o levaram a uma ascensão social sendo o carreirista que era, exatamente o que ocorre com o personagem do filme, Rudolf Höss e sua esposa Hedwige que também existiram.
Glazer é mais um cineasta que nos mostra esse ano, que o Oscar sendo um prêmio comercial como é, ainda pode fazer escolhas de filmes relevantes, complexos, sem concessões, com reconhecimento de crítica e público, oferecendo uma das mais importantes reflexões hoje dia: como enxergar e conviver com o outro?
Um grande filme sobre um tema necessário que jamais deve ser relativizado nem esquecido.
O único senão, embora não seja um filme dado a catarses, é a falta de informação do que houve com os envolvidos.
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