Há alguns dias conheci um senhor não muito velho, devia ter por volta dos 67 anos, contou-me histórias magníficas sobre sua juventude. Falou-me que na década de 60 assistiu “Era uma Vez no Oeste” em um cinema que se localizava em Porto Alegre, e após sair da sessão em êxtase foi logo atravessando a rua para entrar noutra sessão, e assim fazia quase todos os dias. Comentou como os cinemas de rua eram movimentados, e como as pessoas se vestiam para irem assistir a um filme e ficavam discutindo sobre ele ao sair da sala escura. Dizia:
As salas ficavam lotadas! As pessoas iam para ver John Wayne, Henry Fonda…Os lanterninhas ficavam de olho na sala inteira.
Cada sílaba proferida por este senhor entrava pelos meus ouvidos e criava uma sensação de prazer espontânea. Minhas pupilas dilatavam e o sorriso em meu rosto era formidável. Nunca antes tinha conseguido ouvir alguém falar por tanto tempo sem ao menos proferir uma palavra ou checar o smartphone. Todas aquelas histórias para mim eram quase iguais aos contos de fadas, porém, quase como um karma, toda experiência prazerosa deve ser pré requisito de uma catástrofe.
Então, após praticamente um monólogo sobre os grandes momentos do cinema de bairro, fui caminhando até o shopping mais próximo para assistir a um filme de terror qualquer, meu gênero preferido, e depois de subir a escada rolante, deparo-me em sentimentos conflitantes. As pessoas estavam vestidas para entrarem em lojas caras, comprarem produtos caros, que muito provavelmente só os usariam uma única vez; algumas pessoas estavam com seus filhos brincando em jogos eletrônicos dentro de um fliperama; outras estavam contando o troco de um fast food para ver se sobrou o suficiente para uma entrada no cinema. Mesmo com esse conflito, continuei…
Assim que subi as escadas vi as cadeiras lotadas, “um bom sinal”, pensei, porém, ao apagar das luzes me deparei com vários pontos iluminados… Celulares. Praticamente formavam um mosaico de ofensas às pessoas que foram assistir ao filme. Desacertado era as pessoas, que estavam sem os celulares, conversando com os amigos ao lado, abrindo pacote de chips ou beijando seus parceiros (as).
Enfim, pensei em tudo que me fora dito naquele dia, que ficará para sempre marcado, e uma lágrima começou a escorrer de meu rosto ao perceber que estava presenciando a morte do cinema.
Por Will Bongiolo
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