Unindo os clichês de filmes de sequestro e terror, “Abigail” de Matt Bettinelli-Olpin se salva pelas atuações e ótima direção
Os amantes dos filmes de terror entendem que os clichês fazem parte da fórmula de sucesso de grandes franquias do gênero e seus diversos subgêneros. O filme “Abigail” de Matt Bettinelli-Olpin vai além e se une aos clichês tradicionais de filmes de sequestro. A proposta, se bem executada, seria um sopro de criatividade. Mas não é o caso. O que vemos na tela é um filme à beira da genialidade e também à beira do fracasso o tempo todo. Confira a seguir nossa crítica com spoilers leves:
Em “Abigail”, um grupo de criminosos aceita mais um típico trabalho. Dessa vez, a proposta é sequestrar uma bailarina de doze anos, que também é filha de um homem muito rico. Enquanto o contratante do grupo pede um resgate de 50 milhões de dólares para o pai da garota, o grupo só precisa observar a criança por uma 24 horas em uma mansão isolada. No entanto, logo descobrem da pior forma que estão trancados dentro de casa com uma criança nem um pouco convencional.
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Atuações garantem a pipoca
Vamos começar pelos pontos positivos do filme. O primeiro trunfo do filme é justamente o mistério em torno de Abigail que aparenta ser só mais uma menina rica que ama dançar ballet. Você espera, é claro, por uma reviravolta em relação à ela mas não sabe exatamente qual será. A atmosfera de mistério tanto em função da personagem-título quanto dos detalhes sobre o sequestro, captura a atenção. Contudo, se você assistiu os dois trailers, já chega sabendo quem é ela, e só fica aguardando ela se mostrar. Os estúdios precisam urgentemente buscar uma forma mais inteligente de vender seus filmes de terror sem entregar detalhes chave do enredo.
As atuações são todas incríveis. Mesmo quando os personagens são prejudicados por um péssimo desenvolvimento, caso do típico brucutu fofinho dos filmes de sequestro Peter (Kevin Durand) e o fora da casinha Dean, interpretado por Angus Cloud, em filme póstumo. Os dois fazem o que podem com o que receberam. Mas o show mesmo fica por conta das protagonistas Melissa Barrera como Joey, uma mãe tentando se livrar das drogas, e Alisha Weir como a personagem-título. Elas dominam todas as cenas. Completam o time de boas atuações Dan Stevens como o líder do bando Frank, Kathryn Newton como a hacker Sammy e o interesse amoroso de Joey, o Rickles de William Catlett. Esse elenco vale (muito) a pipoca.
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Direção salva o péssimo roteiro
O outro ponto positivo que salva o filme de ser um fracasso é a direção. Os diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett acertam em cheio no ritmo e nos limites para os diversos clichês. O ponto alto da direção são as transições equilibradas entre o mistério, a ação e até mesmo os momentos mais cômicos. Além disso, o filme conta com uma qualidade técnica invejável para qualquer filme do gênero, da fotografia aos efeitos visuais.
O que quase acaba com esse bom filme de terror é, com toda certeza, o roteiro. Megalomaníaco, reúne os clichês de diferentes subgêneros de filmes de terror, como slasher, sobrenatural e de vampiros. Como se não fosse o bastante, vários clichês dos filmes de sequestro estão presentes: o grupo disfuncional, muito dinheiro para uma tarefa “simples”, o anonimato do contratante, aquele que muda de lado e por aí vai. No meio disso tudo, o filme ainda se torna exageradamente cômico em vários momentos. Um pouquinho menos faria bem, certamente.
Não bastasse o exército de clichês, o roteiro ainda traz referências de outros filmes, que são bem irritantes. Dá pra notar que bebeu na fonte de “Quarto do Pânico”, o derramamento de sangue meio Tarantino, as falas batidas do fortão Peter e de Dean. Inclusive, Angus Cloud parece interpretar no filme o personagem que o consagrou em “Euphoria”. Ao final, você já não aguenta mais as referências a “Cisne Negro” da protagonista. Tudo muito cansativo.
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Outro ponto negativo é a falta de regras claras sobre como se matam os vampiros, o que é fundamental em filmes do gênero. Esqueça estacas, alho, crucifixo, nada disso funciona. O que funciona um pouco é a luz do sol. O que retarda um pouco são os sedativos. Outros vampiros morrem, exceto Abigail. O desfecho é pouco surpreendente e não responde a nenhuma dessas questões.
Em resumo, “Abigail” é um filme com um roteiro que não decide para onde quer ir, mas que se salva pelo excelente trabalho dos atores e da direção que entregam um filme que ao menos é divertido.
Imagem destacada: Divulgação/Universal Pictures Brasil
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