Clássicos são aqueles que a toda hora estão ali para serem revisitados por algum motivo, e como não abrir uma série sobre animes clássicos sem um título tão emblemático como InuYasha? Mais recentemente na Netflix, o título que mistura fórmulas do shounen com elementos típicos do shoujo atravessou o mundo e continua a atrair fãs nos dias de hoje — o que explica esse sucesso? Vamos revisitar sua história e falar também um pouco sobre o futuro.
Quero mudar o mundo…
A família de Kagome é guardiã de um templo ancestral, mas a jovem parece pouco interessada em manter a tradição ancestral — da qual é bem cética quanto as lendas fantásticas. Meio a uma discussão em pleno aniversário, Kagome é arrastada para dentro do poço do templo por uma força misteriosa, levando-a ao período Sengoku, quase quinhentos anos antes da era moderna.
No passado, Kagome é encontrada pelo meio-demônio Inuyasha, um rapaz com orelhas de cachorro e superpoderes, que a confunde com uma sacerdotisa chamada Kikyo, com a qual ele não parece ter um passado muito amigável. O que ela não sabe é que a joia de família que carrega consigo, a Joia das Quatro Almas, é cobiçada pelo grande poder que é capaz de conferir.
Coisas acontecem e, meio a um conflito, o item é fragmentado em centenas de pedacinhos e espalhado pelo mundo. Agora, Kagome e Inuyasha precisam correr atrás dos fragmentos da Joia e impedir que eles caiam em mãos erradas, aprendendo a conviver com o jeito um do outro.
Nesse sentido, Inuyasha segue uma estrutura mais ou menos episódica. Cada episódio acompanha um “monstro do dia” que consegue por as garras em um dos fragmentos da joia, ganhando poderes fora do controle. As coisas se resolvem quando a arqueira em treinamento Kagome e Inuyasha, impunhando a Tessaiga — uma espada capaz de matar mil demônios — salvam a pátria e detém as forças do mal.
Juntam-se à trupe a caçadora de demônios Sango, que originalmente buscava vingança contra Inuyasha. O exímio monge Miroku (Mirok em PT-BR), também um caçador de yokai/demônios. Shippo, o yokai-mirim que é provavelmente o mais centrado do grupo, e a adorável Kirara, que faz as vezes de ônibus para a equipe quando necessário.
E o que falar do todo vilanesco, porém adorado — e crushado — Sesshomaru, o irmão mais velho que nutre ódio profundo por Inuyasha, inconformado com a herança de família que ele acredita ser dele por direito, a Tessaiga.
Senta!
Inuyasha é de um tempo em que o fazer de histórias era ligeiramente diferente do que temos hoje em dia. Não que muitos dos clichês não estivessem estabelecidos, eles eram apenas diferentes. Tal como muitos de seus antecessores, Inuyasha reverencia um estilo mais formulaico e a progressão de personagens pode soar borrada para alguns. No fim do dia, você pode sempre esperar Kagome mandando Inuyasha sentar como um cachorrinho (e batendo a cabeça).
Também por ser um clássico, InuYasha é desses animes que vira e mexe são revisitados e lembrados com algum carinho. Falar de amor de um jeito apaixonado e pueril, além de uma abordagem mais feminina para um shounen são alguns de seus atrativos diferenciais entre outras alternativas de séries dos anos 90.
Falando em feminilidade, não dá para falar de Inuyasha sem voltar a tocar no seu apelo com as personagens masculinas. Se por um lado a franquia oferece uma trama de aventura e ação, Inuyasha aborda tópicos comumente associados com o universo feminino, como o romance, e os coloca em uma região cinzenta, sem que isso detrate da história principal.
Há modo geral muito cuidado com a arte em cada quadro, os personagens seguem uma estética noventista forte (embora lançado em 2000), mas possuem um design único que, misturado com uma trilha sonora cativante — “Mudar o Mundo” é uma favorita pessoal — e paisagens idílicas, dá para entender o porque vinte anos após o fim de sua exibição continua atraindo um público que quer fugir para um lugar em que as coisas são mais puras e confortáveis.
Nem tudo é perfeito: InuYasha tenta levar com espirituosidade sua receita de bolo, e conta com um número médio de episódios fillers, cerca de 18%, contudo, mesmo os capítulos da trama central se arrastam. Isso é ruim? Não necessariamente, mas é uma artimanha barata e que a autora continua explorando na sequência YushaHime, e que nem de longe mantém o brilho da produção original — as vezes é importante saber a hora de parar.
Em retrospecto, não há como deixar de recomendar InuYasha se o telespectador quer mergulhar em um pedaço da história. Há um quê de, vendo alguns episódios, ser possível pegar o espírito da narrativa, só que não é a pura nostalgia que puxa novos fãs ao poço como o espírito fez com Kagome, mas uma ambientação competente e capaz de passar a sensação de que aqueles personagens do outro lado da tela também são seus amigos — quase um criador do conceito Comfort Anime.

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