Raizes da violência
A busca pelas raízes é o tema central de “Barba Ensopada de Sangue”, mas Aly Muritiba também insere em seu novo longa um sentimento de vingança, romance e até uma discussão sobre a preservação da natureza. Isso tudo ocorre após Gabriel (Gabriel Leone) se mudar para um pequeno vilarejo de pescadores e passar a residir na antiga casa de seu falecido avô, que é uma lenda local por ter sido um homem cruel e violento em um passado em que ainda se praticava a desumana caça de baleias.
Muritiba já explorou de maneira eficaz, na série “Cangaço Novo”, a premissa do forasteiro que chega a um local hostil e precisa provar-se digno da confiança alheia. No entanto, a diferença em “Barba Ensopada de Sangue” é que o protagonista é visto como um inimigo mortal pelos habitantes do vilarejo, que consideram seu avô um demônio, retratando-o em histórias como alguém dotado de poderes sobrenaturais. Em contrapartida, na série da Amazon Prime, o protagonista é filho de um herói que retorna para restaurar a ordem.
Leia Mais: Coppola | O Último Sonhador de Hollywood
Assim, é evidente que o longa não narra uma história inédita. Trata-se de uma repetição de muitos filmes hollywoodianos dos quais os cinéfilos estão acostumados, já que pelo menos um exemplar desse tipo é produzido nos EUA anualmente, numa tradição que remonta aos westerns repletos de viajantes que chegam desavisadamente a locais hostis. O roteiro, como mencionado anteriormente, enriquece essa premissa com mensagens diversas, mas, infelizmente, oferece pouco para proporcionar tensão ou surpresa. Nem mesmo a direção de Muritiba consegue criar a cola narrativa que mantém o espectador com os olhos grudados à tela e preso à cadeira, apesar de sua câmera captar belas imagens praianas que parecem extraídas de um poema obscuro sobre pescadores.
Leia também: Nintendo Music, novo app com trilhas sonoras da Nintendo é lançado!
O que resta para “Barba Ensopada de Sangue”, portanto, é sua produção de qualidade, que torna convincente toda a violência e o sangue expostos na tela, especialmente em seu ato final. Essa atenção aos detalhes é necessária, pois a brutalidade dos personagens torna-se palpável, algo que uma abordagem com o pé no amadorismo comprometeria. Vale destacar, contudo, que o realismo sangrento não é gratuito; ele se revela coerente dentro daquele universo.
No fim, fica a impressão de que os realizadores construíram uma boa estrutura técnica, mas faltou um pouco de matéria-prima cinematográfica para sustentá-la de maneira consistente.
Obs.: Até o momento da escrita deste texto, o filme não possuía trailer oficial
Este filme foi exibido e visto durante a 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Imagem em destaque: Divulgação
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.
Sem comentários! Seja o primeiro.