“Betinho no fio da Navalha” é uma série para esperançar

Produção da Globoplay conta a biografia do sociólogo Betinho, indicado ao Nobel da Paz pelo seu engajamento social e político.

A série Betinho no Fio da Navalha estreou na GloboPlay dia 1o de dezembro com os 2 primeiros episódios. Serão liberados 2 a cada sexta-feira até completar os 8. A produção dirigida por: André Felipe Binder e Júlio Andrade mostra Betinho como um homem comum, com conflitos, problemas, desafios e ao mesmo tempo, extraordinário. De ordinário não tinha nada, de comum também não. 

Nem vou me estender quanto à caracterização das personagens, fotografia e cenário, pois é desnecessário. Basta dizer que Daniel Souza disse ter sido metafísico ver Júlio Andrade caracterizado; Henfil e Chico Mário também foram impecavelmente interpretados e retratados por Humberto Carrão e Raval Andrade, respectivamente.

A série me trouxe a reflexão sobre a necessidade de valorizarmos as pessoas do nosso convívio enquanto a temos ao lado. Apesar de tê-lo conhecido através da campanha Natal Sem Fome, pelo fato de ser criança à época não tinha a dimensão da importância dele e de sua obra.

Sem dúvida essa série vai apresentar Betinho à muita gente e alguns vão passar a valorizar o seu legado e quiça tê-lo como exemplo. O próprio intérprete Julio Andrade falou sobre as mudanças de percepção que teve a partir da experiência para o G1: 

“Betinho me trouxe o que há de mais puro e básico. Ele me ensinou a enxergar esse outro Brasil que, às vezes, passa despercebido, que a gente não olha, os invisíveis”.

Júlio Andrade, ator

Esperançar é o grande tema dos 2 episódios e arrisco dizer da vida de Betinho.

Esperança de dias melhores a partir das mudanças sociais, igualdade de oportunidades e acesso à cidadania no que há de mais básico: saúde, alimentação e educação.

É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperar.

Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir!

Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo…

A fragilidade física do protagonista confronta diretamente com a resiliência e coragem demonstrados a partir da Esperança

Paulo Freire

1o Episódio: A esperança de encontros 

O primeiro episódio mostra o engajamento político de Betinho, iniciado na Igreja Católica e aos poucos foi se expandindo para a realidade social do país. O contexto histórico é a Ditadura Militar e as ações realizadas pela Ação Popular, organização católica pró-socialismo.

Ao longo do capítulo temos contato com as dificuldades em manter os laços familiares devido à necessidade de mudança constante, bem como os desafios inerentes das condições de saúde.

A despedida dele e Henfil antes de ir para o Chile é um dos momentos mais emocionantes do capítulo. Destaque também para o casamento com Irles e a parceria deles para além do relacionamento: em prol da causa. A sequência da despedida com a mulher também é poderosa, em poucas frases, muito é dito.

2o. Episódio: Esperançar pelo país

A esperança sempre o acompanhou no exílio, período em que passou por diversos países em busca de liberdade. Aliás, a sequência da volta de Betinho com a anistia é arrepiante:

A alternância entre Elis Regina cantando o Bêbado e o Equilibrista e a chegada no aeroporto. Essa música não à toa é considerada o Hino da Anistia, mas ali ficou surreal.

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Logo surge a ideia do IBASE e aí começa mais um desafio: a permissão da alfândega em liberar os equipamentos. Outro ponto alto do episódio é a negociação.  

No 2o episodio também fica evidenciada as dificuldades de relacionamento com seu filho mais velho Daniel Souza, e a ex-mulher. Bem como com a 2a esposa cujo desejo de ser mãe, inicialmente, não é visto com empolgação por ele. O grande momento de tensão com ela é uma atitude dele em relação ao IBASE.

A série Betinho no fio da navalha nos ajuda a lembrar da importância de esperançar, agir e inspira a lembrar que a mudança começa em cada um de nós.