Com humor ácido e crítica social, o novo filme de José Walter Lima é um golpe estético e político sobre a realidade brasileira
“Brazyl, Ópera Tragicrônica“, o novo longa-metragem do cineasta e dramaturgo baiano José Walter Lima, chega às telas no início de novembro de 2024, prometendo abalar o público com uma narrativa que é, ao mesmo tempo, um soco no estômago e um convite ao riso ácido. O filme, uma mistura entre ficção, teatro e cinema, é descrito como um manifesto épico sobre o Brasil contemporâneo, abordando temas que vão desde a corrupção até a violência estrutural que assola a sociedade.
Com um título que já provoca – Brazyl com “Z” e “Y” – o longa reinventa a cena cinematográfica nacional ao explorar a “decadência fulgurante” de uma sociedade em estilhaços. Inspirado no texto teatral “Brazyl: Poema Anarco-tropicalista“, encenado no icônico Teatro Oficina em São Paulo, o filme carrega a irreverência do movimento tropicalista e a denúncia contundente do que o diretor chama de “República dos Canalhas”. Segundo José Walter Lima, este é um filme para fazer rir, mas também para escancarar as mazelas do país, de forma sarcástica e impactante.
Filmado com uma abordagem experimental, “Brazyl, Ópera Tragicrônica” nos transporta para um cenário surreal, onde o luxo e o lixo coexistem em uma sociedade decadente e alienada. O diretor recorre a uma estética inspirada na “Boca do Lixo” – movimento do cinema marginal dos anos 70 – e oferece uma narrativa que recorta e refaz episódios da história do Brasil, desde a década de 1930 até o atual contexto de redemocratização e crises políticas. É um Brasil narrado com sarcasmo e crueza, uma leitura da realidade fragmentada, mas costurada em uma trama onde cada cena é um golpe contra a hipocrisia social.
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O próprio Lima define o filme como um “manifesto político delirante”, uma obra que carrega a intensidade de um “tapa na cara da sociedade”. Ele explica que Brazyl é um discurso sobre o “espírito de uma época”, um zeitgeist da contemporaneidade brasileira, refletindo uma nação marcada pela desigualdade, pela exploração do capital internacional e pelo poder opressor das elites. Carregado de críticas afiadas e cenas que oscilam entre o hilário e o aterrador, o filme não poupa ninguém. É uma narrativa carregada de “fragmentos nucleares sobre o império da corrupção e da bala perdida”, como define o cineasta.
A obra é também uma homenagem à antropofagia cultural de Oswald de Andrade, mas em uma versão adaptada para os tempos atuais, onde o “banquete” é a própria degradação do país. Com influências tropicálias e um tom caótico, “Brazyl, Ópera Tragicrônica” é uma leitura cinematográfica da “antropofagia social”, como diria Roland Barthes, em que os vícios e absurdos de uma nação são expostos sem filtro. É um espelho cruel do que se tornou o Brasil sob o comando de interesses mesquinhos.
Para aqueles que pretendem assistir ao filme, o aviso é claro: apertem os cintos! “Brazyl, Ópera Tragicrônica” é uma viagem aos recônditos mais desconfortáveis da nossa própria identidade, onde as feridas sociais e políticas são escancaradas, e o riso surge como única saída para processar tamanha tragédia.
Imagem Destacada: Divulgação/Abará Filmes
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