“A Grande Aposta”, filme vencedor do Oscar 2016 de melhor roteiro adaptado, deveria ser uma obra cinematográfica obrigatória, tanto para os amantes do cinema, quanto para quem tem interesse em política, economia e áreas correlatas. É um filme quase didático que aborda de forma descontraída a crise financeira de 2008 nos Estados Unidos e traz para as telas um momento real e dramático da história com “um quê” de sátira, revelando ares quase cômicos para a trama. O roteiro foi escrito e dirigido por Adam McKay (“Homem-Formiga” e “Os Outros Caras”), baseado no livro de mesmo nome de Michael Lewis, que trabalhou o jeito instrutivo do roteiro com a aproximação com o público por meio de uma câmera inquieta e algumas “quebras da quarta parede” no meio das cenas, levando as personagens a se comunicar com o espectador.
Nas primeiras cenas é um pouco complicado se encontrar no meio de tantas informações, porém foi trabalhado de uma forma primorosa pela direção de McKay, que logo mistura essa complexidade sobre economia, ao jeito informal do dia-a-dia, trazendo o público para dentro da história. E para isso, além das estrelas do elenco, a produção conta com a participação de celebridades como as atrizes Selena Gomez e Margot Robbie e o chef de cozinha Anthony Bourdain, para trazer explicações mais simples de conceitos econômicos e imobiliários.
Na história Michael Burry, considerado um gênio na matemática, consegue perceber a “bolha imobiliária”, prevendo a queda de um sistema que está muito estável no momento. Essa pequena parte da história mundial aconteceu entre os anos de 2007 e 2008 e levou os Estados Unidos a uma crise motivada pela falta de pagamentos de hipotecas e queda dos valores das ações imobiliárias. Michael investiu uma grande quantia contra a economia, e essa sua previsão da “quebra” acabou chegando ao conhecimento de outras pessoas que se tornaram possíveis investidores, criando quatro núcleos diferentes de história que se conectam pela crise financeira. O final já é previsível por ser um relato real, mas, saber como cada personagem reage ao seu final é o que instiga o espectador a continuar.
O roteiro de McKay consegue fazer com que toda a atenção de quem assiste esteja focada no filme, os diálogos são rápidos, as ações são minuciosas e algumas vezes os personagens até conversam bem baixinho e isso faz com que seja preciso estar mais focado do que já se estaria com alguma outra obra. Isso tudo em função da complexidade do tema do filme, então foram usados métodos para que a atenção pudesse ser redobrada. Um roteiro claro e limpo que só perde um pouco de sua clareza nos minutos finais, quando tudo acontece muito rápido na história real, e por consequência, no filme também. Porém, quando a pessoa já está envolvida na trama, o fim não é tão incômodo assim.
Como citado, a produção traz muitos atores aclamados pelo público como Christian Bale, Ryan Gosling, Steve Carell e Brad Pitt, todos eles com atuações que conseguem prender a atenção de quem está assistindo. Na verdade, o mesmo pode também ser dito para o elenco coadjuvante, afinal, a obra não tem personagens com um destaque maior do que outro, todos os papéis são equilibrados e bem desenvolvidos. A construção de cada um, foi minuciosa, através de um belíssimo trabalho de expressão e corpo, o que ajuda trazer à tona sentimentos e algumas verdades, como culpa, ganância, a vontade de vencer, os medos e os sonhos. Com esse lado mais humano, que revela uma vida como a de qualquer um por trás de ternos e gravatas, o filme consegue criar uma fácil conexão com o público de mais de duas duas horas de projeção.
A direção de arte do filme ficou por conta de Elliott Glick (“Sex Tape”, “American Pie: O Reencontro”), que consegue passar toda a seriedade de momentos em que a economia e as finanças eram tratadas, com uma paleta de cores mais sóbrias em cenas ambientadas em locais praticamente “limpos” de decoração. Mas, como não poderia deixar de ser, Glick traz para a tela toda sua experiência com filmes descontraídos e consegue externar isso para o público proporcionando cores mais vivas como tons de amarelo, verde e vermelho. Seguindo a mesma vertente, o figurino de Maura Cusick, Lawrence Bell e Michelle M. Hebert, também consegue acompanhar essas mudanças e ajudar nas quebras de cena. Grande parte do tempo as roupas utilizadas se limitam a ternos, camisas e gravatas, porém, as cores e os estilos também tem a habilidade de passar mensagens para os espectadores.
A trilha sonora é um espetáculo à parte! É ela a responsável por conduzir o público em meio a tantas informações, possibilitando um respiro e um maior interesse desse, por algumas cenas mais complicadas. Músicas que vão desde “Master Of Puppets” da banda Metallica, até “The Phantom of the Opera” do musical de mesmo nome, passando por faixas como “Neptune” de Nicholas Britell, que foram compostas exclusivamente para o filme, dão seu tom mais leve ou mais pesado para cada momento.
“A Grande Aposta” é um filme essencial. Uma produção indicada para 5 “Oscars”, não poderia oferecer menos para seus espectadores. São 130 minutos de um filme intrigante e envolvente, tanto por seu lado intelectual quanto pelo puro entretenimento.
Por Beatriz Bertolli Paulini
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