A linha tênue entre a diversificação e a ignorância
“Quando alguém vê o vizinho ficando rico, começa a evolução natural da bolha. Bastam três coisas para sua formação: Os inovadores, os imitadores e os idiotas.” (Warren Buffet – Investidor e Filantropo americano)
O que aconteceria se você previsse que o mercado financeiro americano fosse desabar e, a partir disso, uma das mais indecorosas crises econômicas tornasse realidade?! Qual seria sua jogada diante os investimentos que administra?!
As estranhas perdas comerciais, dentro do mercado de títulos hipotecários, sofrida pelos grandes bancos de Wall Street, foi o motivo para que Michael Lewis (“Moneyball – o homem que mudou o jogo”) inicia-se em 2007 uma pesquisa para o seu novo livro, intitulado “A Grande Aposta”. O livro foi lançado em 2010 e, cinco anos depois, tornou-se um dos filmes mais interessantes desses últimos pelas mãos do diretor Adam McKay, conhecido por comédias como “O Ancôra 1 e 2” e alguns trabalhos realizados no programa Saturday Night Live.
Abordado de uma forma não convencional para o mercado financeiro, estilístico e narrativo, estreou nos cinemas nessa quinta feira dia 14 de Janeiro o quase que didático “A Grande Aposta”. O filme relata um dos momentos mais cruciais para economia americana, o colapso financeiro de 2008, quando essa sofreu uma queda extremamente significativa que afetou o mundo todo, devido a bolha formada dentro do mercado de títulos hipotecários subprime. A partir de pesquisas e profundas analises numéricas, o gerente de investimentos e médico Michael Burry descobre uma fissura no credito imobiliário e decide apostar contra o próprio governo e todo seu sistema financeiro, criando uma diversificada atitude diante o olhar ignorante de vários outros profissionais. Utilizando-se de um grupo de personagens que seguido de Burry também acreditaram no desastre, a produção nos apresenta a uma sequência de acontecimentos e jogadas arriscadas que mudaria a vida de muitos envolvidos entre os anos de 2005 a 2008.
Produzido por diferentes nomes, entre eles o de Brad Pitt que também está nesse como ator, o filme não só conta uma história arriscada, como também poderia ter se tornado um risco de produção, seja ele financeiro ou de desenvolvimento, pelo simples fato de tratar-se de um assunto não muito conhecido e/ou estudado pelo grande público. Contudo, torna-se uma das “grandes apostas” do mercado cinematográfico, aterrissando-se com moral ao receber diversas indicações na temporada de prêmios ao redor do mundo, incluindo o próprio Oscar.
Com uma narrativa auto-explicativa, os roteiristas Adam McKay e Charles Randolph desconstroem ainda mais a história escrita por Lewis em seu livro, e estrutura de forma moderna e inteligível o que poderia se tornar quase técnico nas mãos de uma pessoa despreparada.
Mesmo utilizando-se de meios já antes testados no cinema, como o uso continuo de câmera na mão, e o recurso de colocar o ator para quebrar a quarta parede dirigindo-se diretamente ao publico, McKay realiza uma direção inteligente e cria, de forma diferenciada e inovadora, sua própria linguagem, propondo um trabalho leve diante uma história que poderia facilmente ser transformada em algo denso e chato.
A edição Frenética, e extremamente elegante, de “A Grande Aposta” consegue estabelecer um ritmo pontuado e cheio momentos que foram, estrategicamente colocados, para o espectador analisar com maior facilidade o contexto. De forma impactante e estrutural, o trabalho de Hank Corwin funciona como alma para o filme.
O elenco, classe A, parece ter sido escolhido sem toque de caixa e funciona perfeitamente para a produção. Ryan Gosling, fornece um ar charmoso ao personagem de Jared Vennet, narrador da história, e Brad Pitt com uma pequena participação desempenha muito bem o papel do observador, e maníaco por conspirações, Ben Rickett. Entretanto, os destaques ficam por conta do alucinado Mark Baum, vivido por Steve Carrell, e o genial trabalho de Christian Bale ao dar vida ao médico Michael Burry. A construção psicológica de Bale, não chega a ser surpreendente devido a capacidade do ator, contudo seus olhares de um homem com olho de vidro que sofre Asperger é impressionante.
A belíssima fotografia de Barry Ackroyd, com recortes entre tons quentes e frios, traça um aspecto mais jovem e contemporâneo para história, sem perder a seriedade do contexto. A direção de arte de Elliott Glick e figurino de Susan Matherson ficam um pouco a desejar em alguns aspectos, mas não atrapalha a produção no geral.
A trilha sonora de Nicholas Britell se destaca e completa essa imprevisível (sim, imprevisível, mesmo que você a conheça) história, cheia de surpresas do inicio ao fim.
Embora muitos ainda possam ficar sem entender o que são swaps de credito e obrigações de dívidas colateralizadas (CDOs) no final do filme, mesmo assim vale a pena conferir a obra. E, se tudo o que falei não ajudar, o chefe Anthony Bourdain cozinhando e/ou a atriz Margott Robbie (Gif), tomando champanhe em uma banheira de espuma, pode ser uma boa oportunidade para tal.
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