“Belo Monte – Um mundo onde tudo é possível” é um documentário de denúncia, dirigido, produzido e com roteiro de Alexandre Bouchet (“Gaviões da Floresta”), e narra a polêmica história da construção da barragem de Belo Monte e seu impacto nas vidas que estão a sua volta, principalmente para os indígenas em torno do rio Xingu e dos habitantes da abandonada cidade de Altamira.
Produzido com o apoio da Globo Filmes, Globo News e subsidiado pela Ancine, soube retratar o antes, durante e depois da obra, suas consequências e triste legado, com um roteiro bem construído de forma linear.
Traz personagens simples, porém marcantes, que conseguem representar todos os afetados: desde a luta e resistência dos indígenas ao defender a natureza, sua terra e história; como a vida dos trabalhadores que encontram ali seu sustento e saída, mas ao mesmo tempo se viram explorados pela construtora da obra; e claro, os habitantes de Altamira.
E, por falar em Altamira, é possível perceber os motivos pelo qual hoje é um lugar abandonado e falido, uma vez que, seu roteirista soube com maestria apresentar questões delicadas envolvendo a cidade e a grandiosa obra, como o tráfico e a segurança; a prostituição crescente; as precárias condições trabalhistas; a falta de saneamento básico; e as organizações religiosas que vivem em constantes ameaças.
Em certo momento, o documentário toma uma vestimenta de sensacionalismo ao apresentar cenas fortes e chocantes, mas não é o que prevalece, assim também como consegue ser emocionante ao transmitir todo o sentimento de amor, proteção e cuidado do povo local ao lidar com a situação e suas esperanças em fazer algo de bom por sua terra.
A fotografia da obra, ao mesmo tempo que se utiliza da simplicidade, em momentos parecendo filmagem caseira, percebe-se que recorreu a recursos modernos, como o uso de drones para capturar imagens amplas da construção e do rio em sua extensão, e assim, passar ao público o tamanho absurdo da obra e a grande dimensão da natureza devastada.
A trilha sonora tem toda uma preocupação em representar a cultura local ao dar ênfase nos sons da natureza, com cantos de pássaros e músicas nativas, mas sempre contrastando com o som da cidade e o barulho das obras, onde é possível perceber e sentir a destruição e a transformação da natureza pela mão humana.
Um documentário muito bem produzido, onde se percebe o trabalho árduo que foi sua realização e as dificuldades encontradas ao longo do caminho. Só o que deixou a desejar é que se apresenta muito tendencioso, mostrando bem pouco o outro lado, os motivos para a construção da barragem; os argumentos de quem é a favor da obra foi pouco explorado, para que assim o público possa tomar suas próprias conclusões.
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