Não há outra forma de começar falando de um filme de zumbi deixando de comentar que o gênero já foi mais do que explorado, já entrou, saiu e voltou a entrar em moda, o que não significa necessariamente que o tema já tenha sido abordado como no suspense sul-coreano Invasão Zumbi (do inglês: Train to Busan/do coreano: Busanhaeng).
A história gira em torno do egoísta Seok-Woo (Gong Yoo – conhecido pelo seu papel em The 1st Shop Of Coffee Prince), um gerente de fundos divorciado e pai distante da pequena Su-an (Kim Su-an). No dia do aniversário de Su-an, Seok decide levá-la de trem para ver a mãe na cidade de Busan como presente de aniversário. No trem eles percebem que as pessoas estão se tornando violentas devido a uma estranha epidemia e são obrigados a lutar pela sobrevivência enquanto enfrentam conflitos com outros passageiros.
Invasão Zumbi é dirigido por Yeon Sang-Ho que também foi o responsável por “Seul Station”, uma animação que se passa no mesmo universo do filme e conta a história de outros sobreviventes da epidemia na cidade de Seoul. E há algo importante a ser salientado sobre seu trabalho neste filme: Yeon dirige uma grande produção que consegue conquistar o mercado ocidental, mas ainda sim traz uma forma de fazer cinema que reflete suas raízes e isso invariavelmente vai de encontro à uma barreira cultural. Podemos observar isso através de personagens que não transmitem malícia e pelo fato deles expressarem emoções com intensidade quase caricata, algo caracteristicamente oriental, o que podem acabar transformando cenas de sofrimento e heroísmo em motivo para dar uma pequena risada. Mas o problema não é a direção e muito menos a atuação, a questão aqui é a diferença na percepção de mundo e sentimentos que tendem a causar certo estranhamento para aqueles que não estão acostumados. Ainda sim, nesse mesmo sentido, é necessário criticar a representatividade feminina que resume a participação das mulheres a serem salvas, chorarem, demonstrarem emotividade irracional e pedirem permissão para falar. Em nenhum caso a diferença cultural se torna uma desculpa para deixar de analisar essa problemática já que no Brasil continuamos aplicando nosso próprios conjunto de valores independente da origem da produção.
O roteiro até certo ponto transmite originalidade ao equilibrar drama de sobrevivência e ação. Diferente de produções norte-americanas como The Walking Dead e Guerra Mundial Z que, no gênero “zumbi”, desequilibram para um lado ou para outro, respectivamente. O problema é que o filme é uma grande e longa lição de moral que insiste em ser empurrada goela abaixo do espectador.
O ponto alto do longa é a relação entre os sobreviventes e o que eles são capazes de fazer para se manterem vivos e protegerem aqueles que amam. Não chega a ser uma temática realmente nova, mas sempre que bem explorada consegue dar mais substância à trama. Mesmo assim a substância adquirida não é transferida de forma integral graças à barreira cultural anteriormente mencionada.
A caracterização dos “zumbis” não é de impressionar. E realmente não precisaria ser já que eles não passam de pessoas infectadas. O que chama atenção neles é a falta de explicitação de violência (algo que, provavelmente, é um vício cultural do ocidente). Não ver intestinos expostos, membros sendo arrancados faz um pouco de falta em um filme de zumbi, mas pode ser algo interessante no final das contas.
Invasão Zumbi traz uma história diferente que não envolve a salvação do mundo e que explora os conflitos entre aspectos da natureza humana, produzindo assim, no máximo, uma surpresa sul-coreana em um gênero que já é tão explorado por produções norte-americanas.
Por Raoni Vidal
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.
Sem comentários! Seja o primeiro.