“Uma mentira dita mil vezes torna-se verdade”. Talvez não para o mundo todo, mas para quem a conta para si mesmo, com certeza. Esse parece ser o caso do escritor David Irving (Timothy Spall), auto intitulado especialista em história militar, que nega a existência do Holocausto na Alemanha Nazista. Não bastasse ter mais de 30 livros escritos sobre a “II Guerra Mundial”, ele acabou desenvolvendo seguidores por todo o mundo, sobretudo de neonazistas.
Este é um fato (infelizmente), assim como um episódio em que Irwing processou a escritora Deborah E. Lipstadt (Rachel Weisz) e sua editora por difamação, uma vez que a autora condenou os conceitos do britânico em seu livro “Denying the Holocaust”. Em princípio parece um caso ganho, mas aí entra o detalhe de que a ação correu na Inglaterra e nesse país o ônus da prova é sempre do réu. A história desse famoso processo é que está sendo retratado em “Negação”.
Devido à peculiaridade do Caso, a professora e escritora não tem opções a não ser contratar advogados ingleses, tanto por entenderem melhor as prerrogativas daquele país, quanto por serem os maiores especialistas em difamação (defenderam a princesa Diana e o escritor Salman Rushdie). Com isso, a equipe jurídica tem a difícil missão de provar que Lipstadt está correta em chamar Irwing de mentiroso.
A trama se desenrola rapidamente de modo que a escritora se muda para Londres onde passa a conviver com os advogados que a defenderão. O problema é que ela, tão segura e independente, não concorda com a linha de defesa adotada pela equipe jurídica. Enquanto ela pretendia levar testemunhas presenciais do holocausto e fazer um discurso ímpar, a estratégia dos advogados é de blindar tudo isso para que Irwing não tenha recursos para forçar uma reviravolta. Isso acaba por criar algumas dúvidas e tensões que podem colocar o julgamento em risco.
Richard Rampton (Tom Wilkinson) e Anthony Julius (Andrew Scott) conduzem a defesa fazendo acusações enfáticas ao escritor inglês. “Mesmo que esteja defendendo, ataque.” A estratégia dos advogados ingleses é de causar espanto até mesmo em quem está acostumado a assistir filmes de tribunal. Com isso o roteiro de David Hare vai diminuindo o peso em cima de Irwing e colocando os advogados como antagonistas de Lipstadt. Também diminui a ação da própria escritora, que praticamente assiste seus advogados executando suas estratégias jurídicas.
Os personagens são fortes, mas acabam não sendo desenvolvidos muito a fundo, o que prejudica seriamente a trama. Um tema tão complexo levado a cabo por duas pessoas de personalidades fortes necessitava de protagonistas mais densos. Apesar disso, Rachel Weisz representa bem a professora teimosa se remoendo com a resignação. Da mesma forma Timothy Spall é muito convincente no papel do historiador prepotente que não poupa esforços para distorcer a realidade em favor de suas ideias.
A direção de Mick Jackson é bem orquestrada, importante nas sequências em que diversos personagens contracenam juntos. A fotografia é eficaz, não indo muito além disso. Por outro lado a direção de arte foi muito feliz se apropriando da arquitetura e decoração dos prédios ingleses. “Negação” não é o tipo de filme para ter grandes destaques nos critérios técnicos. Seu ponto alto deveria ser o roteiro, mas ele falha na superficialidade dos personagens, apesar de ter uma linearidade concisa.
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