Para se compreender a trajetória dos personagens de “A Canção do Pôr do Sol” é preciso ter um mínimo de conhecimento sociológico, sobre a representatividade de um pai perante sua família e a forma como eram enxergadas as mulheres no início do século XX, antecedendo os acontecimentos da 1ª Guerra Mundial.
O filme baseado na obra de Lewis Grassic Gibbon, nos apresenta a jovem Chris Guthrie (Agyness Deyn) e sua tradicional família interiorana e escocesa: um pai truculento, que se acha no direito de fazer o que bem entender, a mãe sofredora, que precisa aguentar calada tudo o que o marido faz com ela e com os filhos, e seu irmão “rebelde”, que sonha em ir embora para ter uma vida melhor. Dada essas circunstancias para cada personagem, vemos o longo desenvolver de Guthrie com relação a sua fracassada vivencia familiar, a descoberta do amor e, por fim, a influência da terra onde mora sobre sua vida.
O roteiro e a direção ficaram a cardo do mesmo profissional que não conseguiu realizar nada bem feito. O britânico Terence Davies, adaptou a obra tornando-a maior do que deveria e ao invés de jogar com a sensibilidade natural da trajetória, resolveu esgotar todas as possibilidades de expressão, desde os diálogos aos planos escolhidos. As inserções de canções típicas não conseguiram dar glamour, nem melancolia, a obra deixando-a ainda mais sem graça. Durante todo o filme temos a sensação de que a história, mesmo sendo próxima a realidade, de forma ficcional, não passa de um melodrama de mal gosto.
Além da família e do futuro marido de Guthrie, Ewan Tavendale (Kevin Guthrie), somos apresentados à outros personagens que não sabemos o porquê vieram e não vão para lugar algum. Agyness Deyn, como a protagonista, se esforça para retratar bem a personagem, porém quando ele é malcriado e mal dirigido, é complicado desenvolver de forma decente o trabalho de atriz. Kevin Guthrie que poderia roubar a cena acaba não o fazendo e quando seu personagem volta temporariamente da guerra, suas ações se tornam desnecessárias e exageradas ao ponto de perdemos o interesse para o clímax futuro de Ewan.
Como de toda obra ruim podemos tirar um proveito, aqui não seria diferente. A beleza expressa nos enquadramentos vem da direção de fotografia de Michael McDonough que verdadeiramente dá encanto ao marasmo do diretor. Temos práticas de transição que vão desde o movimento a equalização das cores. A forte presença terral, na vida dos personagens, são fortemente vivenciadas graças ao seu trabalho.
Outro belíssimo trabalho, como já era de se esperar, vem do departamento de arte, tendo não só um, mas três diretores de arte, Mags Horspool, Ken Tuner e Diana Van de Vossenberg, que alinhados a decoração de set de Sylvia Kasel e o figurino de Uli Simon, fazem do filme uma verdadeira representação épica da pré-guerra, abusando de forma consciente os tons terrais, neutros e a saturação negativa de cores primárias e secundárias, para realizar e transcender na tela a naturalidade da existência.
Se em “Sunset Song”, título original, temos uma mulher emaranhada por acontecimentos fatídicos em seu existencialismo, que precisou aprender a ser forte, como expectadores temos uma guerra travada para nos sentir entretidos durante as mais de duas horas de filme. “A Canção do Pôr do Sol” nos enche os olhos pela estética, mas os olhos que deveriam se encher de lágrimas ao sermos expostos tal crueldade humana e intima, ganham piscadelas de sono e bocejos de insatisfação.
*O filme ainda não possui trailer legendado, nem data de estreia no Brasil. Longa assistido no Festival do Rio 2016.
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