É inevitável que quando uma nova moda se torna popular com o público, alguma produtora vai arranjar um jeito de coloca-lá em um filme. No Brasil, esse processo tem originado anomalias cinematográficas que invadiram as salas de cinema, os “filmes de youtubers”, que são comédias que estrelam pessoas famosas na internet, como “É Fada!” (2016) e “Internet: O Filme” (2017). Engana-se, porém, quem acredita que essa epidemia exista somente em solo nacional, e a prova viva disso é “A Mansão”, nova produção francesa que estrela, quem diria, uma lista de celebridades digitais do país.
A trama é sobre um grupo de dez amigos franceses aluga uma mansão isolada em uma área florestal da Bélgica, onde não tem wi-fi ou sinal de celular, para realizar uma festa de ano novo. Porém, o longa se trata de um terror-comédia, então é óbvio que a situação não é inofensiva como parece, portanto, logo os amigos começam a ser caçados e mortos os poucos por um assassino misterioso e descobrem que o local onde tem diversos segredos macabros.
O subgênero do “terror-comédia” tem gerado diversas produções excelentes nos últimos anos devido a seus roteiros sagazes, que são uma forma de autoparódia. Infelizmente, “A Mansão” não tem toda essa perspicácia. O script apresenta uma ambientação clássica para um pastiche de terror sobrenatural ou slasher, mas a utiliza apenas de fundo para personagens exaustivos que não param de contar piadas escatológicas pouco engraçadas e nada originais, o que faz com que pareça uma versão pobre de “Todo Mundo Em Pânico”(2000).
Por causa disso, a “trama” do longa não tem muita lógica e parece somente uma desculpa para colocar esses “atores” juntos em uma sala. Vários personagens realizam ações que não fazem sentido nenhum, como a mulher que decide do nada ir cozinhar enquanto seus amigos estão sendo assassinados ou o homem que atira no celular – que finalmente tinha conseguido uma barra de sinal e poderia ser usado para pedir por ajuda – com a justificativa de eles mesmos terem que enfrentar o assassino.
Mais chocante ainda é o fato de que quem faz isso é Bruno (Ludovik Day), que até então tinha como sua única característica “ser covarde”, mas que se torna corajoso em um corte de cenas, após um confronto com Stéphane (Jérôme Niel), com quem tinha uma relação perturbada. O arco dos demais personagens é igualmente superficial, e é quase admirável o quão exagerada é a sua caracterização. Um exemplo é Djamal (Mister V) que sonha em ser ator, então, naturalmente, está sempre ensaiando falas aleatórias enquanto conversa com seus amigos, o que é um dos únicos pontos em que o longa parece uma paródia bem pensada.
Essas figuras rasas são interpretadas por um elenco, como já foi mencionado, de youtubers franceses que não são incompetentes, mas são bem limitados. O único que tem uma performance de fato engraçada é Vincent Tirel, que interpreta Drazic, o membro do grupo que está constantemente drogado. O restante só deve ser notável para alguém que os reconheça, principalmente por causa do humor bobo e batido do roteiro.
A produção, porém, não é feita apenas de desgraças, e sua parte técnica merece um mérito. O uso de bons efeitos práticos é bem-vindo, assim como a fotografia de Maximiliaan Dierickx e a direção de Tony Datis, que é suave em seus movimentos de câmera e sabe usar bem certas técnicas, como, por exemplo, o enquadramento holandês, para passar o desconforto dos personagens. A cena inicial, em particular, chama a atenção pelo modo como, em um plano longo, estabelece seus personagens e cria suspense, mostrando a reação de todos ao local antes de mostrar a fachada da mansão.
Suas proezas técnicas, entretanto, não são o suficiente para salvar o longa, que é um terror-comédia que não assusta e, na maior parte do tempo, também não faz rir. “A Mansão” tem resquícios de uma boa paródia, mas no geral é apenas uma decepção.
“A Mansão” está disponível na Netflix.
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