Há 20.000 anos, falando inglês (ou português, na cópia assistida) um garoto sai pela primeira vez com sua tribo para caçar. Sob a supervisão do pai, o grande líder, o garoto precisará provar que possui as habilidades para se tornar o sucessor que manterá a tribo no futuro. Depois de um incidente, ele é dado como morto e se vê sozinho em um mundo selvagem cheio de perigos. Sua jornada de volta para casa começa quando ele ganha a companhia de um lobo, que o ajudará nos obstáculos do caminho.“Alfa” é o nome do lobo e o título do longa que tenta manter o público interessado por uma história que já foi contada inúmeras vezes. Para ser mais exato, o roteiro faz uma salada com o instinto de sobrevivência, misturando questões sobre amadurecimento e a ligação entre humano e animal.
Não há problema em construir um filme com idéias do passado, e Alfa não falha totalmente em sua proposta dramática nas sequências em que vemos o sofrimento do garoto e do lobo em situações extremas. É comovente a amizade que se forma entre os dois. No entanto, as formulaicas cenas de aventura comprometem a experiência, que se torna óbvia ao extremo. O espectador mais acostumado com esse tipo de produção saberá exatamente como ela terminará já em seu início, infelizmente.
A direção de Albert Hughes também não é inédita, e aquele espectador esperto notará o quanto ele se apóia em planos de transição onde a imensidão do ambiente se sobrepõe aos personagens minúsculos ou em suas tentativas de assustar e criar terror com perigos vindos de fora do quadro. Mesmo os efeitos visuais são falhos em alguns momentos, principalmente quando há muito movimento na tela e as criaturas se transformam em borrões. Além disso, Hughes segue aquele manual de obstáculos que o personagem principal precisa superar, como a travessia pelo lago congelado, a nevasca de proporções sobrenaturais, a fome e o ataque inesperado de animais com sede de sangue. Repetindo: não é errado usar esses tipos de recursos para construir a narrativa, mas ela precisa de inspiração para se tornar fluida e mais interessante. De outra forma, tudo se esvazia em uma simples cópia.
Com problemas na direção e no roteiro, algo precisaria se destacar para valer a ida ao cinema, e a fotografia de Martin Gschlacht é um atrativo. O fotografo consegue transitar bem entre iluminar o verão amarelado com tons de aridez e o predominante branco do inverno. Claro que esse tipo de trabalho chega a ser prosaico para um profissional experiente, mas o que chama a atenção é a transição entre uma estação e outra. As sobreposições de planos funcionam competentemente dando a clara sensação de passagem de tempo e a mudança de cores não agride os olhos, como aconteceria se fosse feito de outra forma. Bonito também são os planos no por ou no nascer do sol, quando apenas a silhueta do garoto é vista quando esse encara o horizonte. O frágil de frente com o poderoso planeta desconhecido.
Já no terceiro ato há uma ótima sacada no roteiro para que a mensagem principal do filme seja passada de forma clara ao espectador. Para evitar spoilers, só é possível dizer que se trata de uma demanda muito cara às mulheres atualmente. Mulheres essas que ficam em segundo plano, como se fosse objetos dos machos Alfas da sociedade. O que esses machos não entendem é que, sem suas fêmeas, sua prole não nascerá ou mesmo se desenvolverá de forma satisfatória, e que é preciso a união dos gêneros para que todos vivam harmonicamente. Em síntese, o filhote precisará dos dois lados para sobreviver e se tornar um adulto forte.
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