Há poucas tarefas mais ingratas do que adaptar um evento ocorrido nos quadrinhos para um filme. Pense na seguinte situação: quando um personagem morre nos quadrinhos, geralmente isso é construído através de algumas edições que são complementadas por outras revistas, de outros personagens, isso tudo funciona porque o personagem já vem de anos de publicação e familiarização com público. Mas um filme tem que apresentar os mesmos personagens para um novo público, fazer a trama correr em paralelo de uma maneira natural e isso tudo com um tempo limite de 90 minutos (esse sendo o padrão das animações da DC). Mas isso significa que esses filmes estão fadados a serem apressados e/ou desorganizados? É isso que “A Morte do Superman” vai nos responder.
Um monstro gigantesco, batizado de Doomsday, surge do mundo subterrâneo para começar uma destruição em massa na cidade de Metrópolis. A Liga da Justiça precisa intervir imediatamente, mas parece que só os poderes do Superman são compatíveis com o do terrível monstro. Em uma luta mortal, o destino do super-herói torna-se incerto.
Um dos méritos do filme está em como ele retrata o Superman. Para que o seu destino incerto tenha maior impacto para o público. Primeiro, é estabelecido uma situação de risco, ela se complica ainda mais, e logo temos a noção de que só a polícia não é capaz de resolver o conflito. Assim, quando o personagem finalmente intervém, é mostrado aos poucos, em pequenos relances, até que finalmente o vemos de corpo inteiro, resolvendo a situação com grande facilidade. Deixando assim, claro para o público importância do herói para a cidade. Em contraparte à sua vida como homem de aço, vemos a sua vida cotidiana, seu eterno conflito em revelar ou não para Lois Lane sua identidade secreta, dando assim ao personagem dúvidas mais facilmente identificáveis, que acabam por torná-lo mais humano.
E se o roteiro faz um grande esforço e é bem-sucedido em humanizar o personagem, o character design faz justamente o contrário, desde as sobrancelhas arqueadas ao físico musculoso que mais parece uma parede, todas características visualmente muito distante do aspecto inocente e doce de Clark Kent que o roteiro entrega. Isso quando o design não cria personagens tão idênticas que mais parecem gêmeas (como Lois e a Mulher Maravilha).
Outro problema do filme é a animação que oscila muito de qualidade, existem cenas de ação primariamente animadas, e tudo que não gera ação em dados momentos é inclusive possível perceber que não foram desenhados os rostos de alguns personagens na cena, isso quando carros não estão mudando de tamanho entre uma cena e outra, os mesmos que aliás são nitidamente feitos de um tipo de CGI (o que não é incomum em animações), que incomoda por ser muito destoante do restante da animação.
Apesar de todos os problemas referentes à animação, as cenas de ação são as melhores sequências do filme, tanto no quesito de valor de produção, quanto na direção. A dupla de diretores Sam Liu e James Tucker criam muito impacto para a batalha, usando desde cortes rápidos (que dão um grande dinamismo às cenas), até um slow motion muito bem dosado, que cria impacto necessário para chocar o espectador (vide a cena de batalha entre a Mulher Maravilha e o Apocalipse). Isso somado ao excelente design de som, cria algumas das melhores cenas de ação das animações da DC.
Apesar da tarefa ingrata de adaptar um evento de grande escala nos quadrinhos e dos deslizes estéticos da animação, os diretores conseguem fazer com que “A Morte do Superman” seja boa o bastante não só para entreter, como também para emocionar o público.
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