Roteiros sobre divórcios podem gerar grandes filmes, como o iraniano “A Separação” de Asghar Farhadi, mas também obras banais e que parecem não ter um propósito como o chileno “A Taça Partida”. A falta de conflitos verdadeiros e de um clímax tiram todo o interesse do filme de Esteban Cabezas, que apesar de ter apenas uma hora e vinte minutos de duração, é cansativo e desinteressante. Os competentes atores e a tentativa de Cabezas de criar uma obra visualmente significativa através de uma razoável direção, infelizmente, não são suficientes para fazer com que o espectador seja preso pela história.
História essa que é sobre Rodrigo, que deixa a casa que comprou para ele e para sua esposa e filho depois da separação do casal. Agora, ao ver que a mulher está em outro relacionamento, ele tenta recuperar a família, mas o faz praticamente invadindo a casa e se intrometendo na rotina que agora conta com outro homem. Fica claro que Rodrigo sofre de arrependimento e de ciúmes mesquinhos, já que ele toma atitudes imaturas como se masturbar na cama que agora não é mais sua e destruir objetos e usar as roupas de seu rival.
O problema é que o roteiro se torna óbvio ao demonstrar tais atos de imaturidade do personagem e propor os motivos pelos quais ele perdeu sua família. Antes de escrever essas cenas, o roteirista deveria ter pensado que, às vezes, as mensagens passadas pelo cinema podem ser minimamente expostas para que o espectador se sinta tentado a decifrá-las, e que quando a respostas já são dadas prontas no próprio plano, tudo fica sem sabor. O mesmo acontece na introdução, quando a câmera passeia por defeitos da casa, como uma janela quebrada, o piso com buracos e a parede com marcas de infiltração de água. Rodrigo até conserta uma torneira quebrada e cola a alça em uma caneca. Tudo para mostrar a destruição familiar ao longo dos anos antes da separação e as tentativas dele em recuperar o que fora perdido. Mais óbvio impossível!
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Esses signos até que são bem usados pelo diretor, que os filma em planos mortos. Dentro da casa, também não há movimentos de câmeras e os cortes são econômicos, o que auxilia no clima melancólico entre aquelas pessoas. Pena que o roteiro formulaico não ajuda na construção desse ambiente.
“A Taça Partida” é uma obra sem alma. Todas as suas cenas, mesmo que bem dirigidas e interpretadas, poderiam ter sido filmadas por qualquer pessoa comum que quisesse deixar registrado os conflitos domésticos de seus familiares. Nem mesmo as cores da fotografia, figurino e design de produção inovam. Elas são frias e sem vida para, evidentemente, externar o estado de espírito dos personagens. Além de toda essa mesmice, há ainda o sentimento de que os realizadores enganaram seus espectadores, já que nem mesmo nos minutos finais há algo de resolutivo na trama. Termina-se da forma como se começou. Com isso, a pergunta que vem à mente é: será que era preciso fazer um filme que não propõe conclusões?
“A Taça Partida” foi visto durante a 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Até o lançamento dessa crítica, não havia trailer disponível.
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