A surpreendente linha entre o fracasso e o sucesso
Enquanto alguns insistem em perder tempo, sentindo pena de si mesmo, achando-se incapazes de realizar determinado feito ou atingir aquela meta que irá influenciar em seu próprio sucesso, uma diferente perspectiva é antevista por outro que não desperdiça segundos e doa o seu máximo para não perder o foco na conclusão de seu objetivo. Pessoas assim estão cada vez mais raras mas, quando surgem, tornam-se exemplos ao demonstrarem capacidade suficiente para moldar uma geração ou, até mesmo, mudar a visão de um mundo inteiro sobre o poder que a força de vontade exerce sobre a vida das pessoas.
Em um embalo parecido com um livro de autoajuda, onde somos guiados pelo narrador durante toda história, o filme “A Travessia” tenta provar que a determinação de uma pessoa pode levá-lo a realizar seus objetivos mais pungentes. Durante duas horas, somos influenciados pela fascinante história do francês Philippe Petit e sua perseverança que o conduz, numa manhã de agosto do ano de 1974, a consumar um dos atos mais surpreendentes e extraordinários de todos os tempos ao atravessar as inacabadas Torres Gêmeas.
Como em um concerto, durante toda produção, somos encantados pela dedicação e performance do artista, tal como belíssimo trabalho de reconstituição de época, dos edifícios, quanto o inteligente (e não exagerado) uso do 3D feito pela equipe do filme.
O roteiro é consistente e extremamente claro, o que facilita a narrativa, mas sofre ao possibilitar alguns momentos repetitivos na história. Escolha essa que não prejudica num todo pois (criando aqui uma analogia), no mesmo momento em que o narrador quer deixar claro, repetindo, o que vem acontecendo, somos convencidos por Petit e sua perfeição em checar tudo duas vezes, como faz com seu próprio equipamento.
Robert Zemeckis orquestra “A Travessia” com absoluta genialidade. Suas ideias ousadas, desde a paleta de cores, decisões por escolhas de planos e movimentos de câmera transformadores, fazem do filme mais uma de suas obras de arte. Responsável por clássicos como “De volta para o futuro”, “Forrest Gump” e “Naufrago”, o diretor não nos decepciona ao expor, durante toda enredada trama, o artista mais do que o feito em si, referenciando suas dificuldades e frustrações para conseguir atingir seu sonho.
A deslumbrante fotografia brinca com as cenas criando um ar ingênuo, puro, nas primeiras partes do filme, abrindo espaço para gerar uma identidade com os grandes filmes mudos de comédia antiga (O que pode parecer clichê mas acaba sendo interessante). Ao mesmo tempo trabalha a mudança de nuances e climas da época, de diferentes lugares, possibilitando uma perfeita combinação e harmonia entre tons.
Com um elenco consciente e preparado, o filme se completa. Joseph Gordon-Levitt modifica-se, completamente, ao dar vida ao equilibrista francês. Além de aparente transformações, o ator consegue realizar a difícil (e muitas vezes questionada no cinema) tarefa de trabalhar com mérito o sotaque e, ainda, falar no idioma sem perder a tranquilidade e veracidade da personagem. Já Ben Kingsley vive o seu mentor, nos proporcionando um magnifico desempenho na pele de um homem tão rígido quanto sua capacidade de ser sensível. Charlotte Le Bon e sua beleza singular são responsáveis a dar vida Annie, interesse amoroso de Philippe. A atriz canadense, que também esteve presente em Yves Saint Laurent, não decepciona e segura o jogo durante todo o filme.
Entre devaneios e conquistas, a não autorizada travessia de Petit acaba servindo como um excelente filme de inspiração. Sem contar na vertiginosa experiência causada por cenas de tirar o folego capazes, juntamente com o 3D, de nos fazer sentir um pouco da sensação vivida pelo equilibrista. Vale a pena conferir e congelar o coração nesse filme que cumpre muito bem o prometido.
Imagens e Vídeo: Divulgação/Sony Pictures
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.