A vida pode até não ser um musical mas se fosse decerto se pareceria bastante com esse
Um texto bem escrito, uma boa direção e bons atores em cena são a fórmula perfeita para um excelente espetáculo. É exatamente o que acontece em “A Vida Não é um Musical” escrito por Leandro Muniz ( Meu Passado Me Condena) estreante no gênero e dirigido pelo mesmo ao lado de João Fonseca (Tim Maia, Vale Tudo – O Musical)– um nome já bem conhecido no teatro musical carioca . A trama gira em torno de uma personagem de contos de fadas que adentra o mundo real e vê que nem tudo são flores. Mas o que a peça tem de melhor é: ironia e humor com as figuras políticas do país da forma mais direta possível.
O foco de toda comédia é centrado não só na política, mas também no próprio musical – é o programa perfeito para arrastar aquele amigo que odeia o gênero porque o espetáculo tira sarro ao mesmo tempo em que oferece ao público um ótimo musical com canções geniais – créditos para Fabiano Krieger e Gustavo Salgado – não é a ironia perfeita? Somos guiados pela trajetória de Liz, que vive num vilarejo com seu marido e filhos, ela sonha em explorar os limites de onde vive mas é cerceada pelas leis que proíbem o contato com as pessoas do mundo externo. Liz consegue desafiar a regra e cai numa favela, é assaltada, vê o mundo como é e por fim se torna candidata a governadora aonde vê a sua ideia de conto de fadas indo por água abaixo perante toda aquela podridão. As referências a figuras e a acontecimentos políticos do país são inúmeras e hilárias, o texto vai desde a milícia até o esquerdo-macho, como tudo é um grande piada, a costura fica rica e interessante sem cair no gratuito, outro fator que alavanca a peça são as músicas que satirizam o seu próprio estilo e métrica.
Com tanta proposta, tinha tudo para ficar uma zona, mas não é o que acontece, os atores estão bem nivelados e compõem o espaço cênico de forma bem harmônica, eles ficam dispostos no gramado verde com desenhos toscos rodeado por um tecido azul que escondem o lixo do mundo real – o cenário de Nello Marrese representa exatamente essa passagem entre as fronteiras do vale e a sujeira do mundo exterior. Os figurinos de Carol Lobato são impecáveis – o que já é de se esperar do trabalho da figurinista, ela vestiu bem desde o estilo “disney” até o saci, ufa! A iluminação de Paulo Denizot engrandece o formato arena de forma discreta e funcional.
O elenco se divide em múltiplos papéis – os únicos fixos são Daniela Fontan como a protagonista Liz (Sucesso), Nando Brandão (Só Por Hoje – O Musical), como o político revolucionário de esquerda e Thelmo Fernandes (O Beijo no Asfalto – O Musical) como o governador Sérgio Camargo – te lembra alguém? – que, por sua vez, está muito bem em cena. Também dividem o palco Marcelo Nogueira (Agnaldo Rayol – A Alma do Brasil) na pele do marido de Liz que não para de cantar, Agusto Volcato (O Menino das Marchinhas – Braguinha Para Crianças) faz mais de uma aparição memorável, Ester Dias (O Jovem Frankenstein) brilha no debate como a candidata a governadora indecisa, Flora Menezes (Só Por Hoje – O Musical) rouba a cena como a assistente autoritária, Joana Mendes (Só Por Hoje – O Musical) capaz de deixar na memória tanto a vilã quanto o menino de rua, Udylê Procópio (Bituca – Milton Nascimento Para Crianças) que vive um saci hilário e Ingrid Gaigher (Rent) como narradora e líder de um grupo bem opressor. Todos com ótimas contribuições e personagens bem divertidos.
Numa época em que militâncias e bandeiras estão borbulhando mais do que nunca e o cenário político do país é um dos piores da história nada como uma bela ironia em cena para nos fazer rir antes de chegarmos em casa e chorar. Vale a pena esperar pela próxima temporada e arrastar aquele amigo coxinha, ou mortadela, ou seja lá o que ele for para assistir.
Por Rayza Noiá
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