A premiada peça “O Método Grönholm” encerrou mais uma temporada no Rio de Janeiro. Com direção de Lázaro Ramos e Tatiana Tibúrcio, a peça é uma inteligente sátira de um dos maiores desafios do trabalhador: a entrevista de emprego. Com elenco afinado, fica impossível não se colocar no lugar de ao menos um deles. Confira a seguir a crítica:
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“O Método Grönholm” é uma adaptação da obra escrita em 2002 pelo catalão Jordi Galcerán. O texto é tão atemporal, que mesmo 21 anos depois de escrito continua fazendo total sentido. E ainda arrisco dizer que terá sempre um lugar nos teatros mundo afora, ao menos enquanto o capitalismo guiar as relações no trabalho.

No espetáculo, quatro candidatos a uma vaga de executivo de uma multinacional se encontram para a fase final de testes seletivos. Enquanto aguardam, descobrem que estão sendo observados e que, na verdade, o teste já começou. E os acertos da montagem já começam pelo elenco, que representa o padrão do mercado de trabalho. São três homens e uma mulher branca disputando o cargo de executivo. Entre os homens só um é negro.
Uma divertida crítica ao opressor
O desenrolar do encontro entre essas quatro pessoas em busca de uma vaga de emprego é uma crítica afiada aos métodos de seleção de candidatos. E o humor é o elemento fundamental capaz de conectar a obra com o público, um convite a rir da própria desgraça. Quem já buscou um emprego sabe que a tal dinâmica de grupo do RH é frequentemente um jogo de disputa constrangedor, com uma razão de ser baseada num método “inovador e único”. Isto é, uma piada pronta.
Aqui, a inovação do método é descobrir quem é o impostor do grupo, a partir de tarefas que vão chegando para cada um dos quatro. A cada sucessão de eventos, temos a sensação de que uma seleção para uma vaga de emprego nada mais é que uma encenação, onde rompemos com quem somos por alguns instantes, para construirmos um personagem. É a arte do teatro no cotidiano opressor do trabalhador.

Para além do texto, é impressionante o trabalho imersivo dos diretores Lázaro Ramos e Tatiana Tibúrcio. Os diálogos hilários e as situações apresentadas estimulam a crítica tanto ao opressor mercado de trabalho quanto a nós mesmos, que estamos lá, mas também estamos na poltrona de um teatro, nos divertindo. Isso tudo é elevado à máxima potência pelo experiente elenco composto por Luis Lobianco, Raphael Logam, André Dale (no lugar de George Sauma) e Anna Sophia Folch. Com tanta gente competente no mesmo metro quadrado, é impossível dar errado. Ainda que o Fernando Fontes de Luis Lobianco seja o centro da narrativa, todos olham nos olhos da plateia, com o melhor de si.
Após tantas temporadas, temos a sensação de que “O Método Grönholm” é a expressão máxima da função social do teatro, a expressão artística de uma realidade com lógica inversa à do mercado: o opressor é o motivo da piada, ainda que possamos rir de nós mesmos, enquanto sujeitos em busca de um lugar ao sol. Por fim, espero que o público siga esse espetáculo onde quer que ele for.

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