Ser jovem e negro no Brasil dos anos 70 era ser alvo de constante violência e repressão. Sendo empurrados para subempregos, enquanto a polícia checava sua carteira de trabalho para saber se estavam ou não de “vadiagem” pelas ruas, gerou na juventude negra um sentimento de não pertencimento. Eles não se viam em lugar algum, e o único espaço que tinham acesso a lazer eram os bailes onde se tocava majoritariamente samba. Em busca de uma identidade própria, que valorizasse sua identidade, os jovens daquela época se viram no movimento Soul, muito forte nos estados unidos, o que acarretou a um dos mais influentes movimentos negros no Brasil.
Emílio Domingos, durante a produção de um de seus mais emblemáticos longas, “A Batalha do Passinho”, se depara então com a possibilidade de contar a história de Dom Filó, um dos precursores do movimento no estado do Rio, e cofundador do maior acervo audiovisual de cultura negra da américa latina, o Cultne. Começa, então, a produção do incrível documentário “Black Rio! Black Power!”

O filme, brilhantemente montado, faz um delicado trajeto por entre as histórias de Dom Filó e de outros frequentadores e colaboradores dos bailes de Soul do estado do Rio. As entrevistas são conduzidas de forma com que os convidados criem uma linha narrativa magistral, não nos poupando de detalhes sórdidos sobre o contexto em que estavam inseridos, nos mergulhando de cabeça no cenário que enfrentavam de repressão tanto do governo vigente, quanto de seus opositores.
“Não sou comunista. Não sou imperialista. Sou um negro em ascensão!“
O documentário não possui medo de se posicionar politicamente e socialmente, demonstrando não só a luta que foi travada para que os bailes pudessem ocorrer, mas reforçando as ideias que eram difundidas dentro desses eventos, criando um sentimento de coletividade, além de valorizar a beleza e a estética negra. Os efeitos dessa cultura são facilmente observados nos entrevistados, que além de defenderem a ideia de uma comunidade unida em prol da luta contra o preconceito, são extremamente interessantes, carismáticos, e possuem orgulho de serem quem são, o que leva ao público a uma experiência extremamente única, e extremamente carioca.

Ilustrando as falas de seus entrevistados, Emílio explora o arquivo da Cultne, e traz a tona imagens impressionantes dos bailes da época, criando paralelos com a atual juventude no Brasil, expondo a influência que esses eventos tiveram na criação de uma identidade da periferia, podendo ser considerado o “pai” dos bailes funks, mostrando até mesmo o início da furacão 2000! E a trilha sonora do filme, que com toda certeza teve influência de Dom Filó na seleção de músicas, é absurda. O Soul é um gênero musical extremamente alegre e único, e cria uma atmosfera esplêndida para o filme.
Sem dúvidas, “Black Rio! Black Power!” é uma obra maravilhosa e que se faz extremamente necessária, celebrando a vida de grandes ícones da cultura negra carioca e fazendo um importantíssimo registro do início de uma das linhas identitárias mais emblemáticas do estado do Rio de Janeiro.
“Black Rio! Black Power!” foi exibido no 9° Arquivo em Cartaz – Festival Internacional de Cinema de Arquivo.

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