Em tempos que aulas de história são invocadas para explicar (ou não) a situação atual do país, é bom lembrarmos de um filme histórico, tanto por causa do seu contexto para o cinema nacional, quanto pelo seu enredo que revisita um dos capítulos mais comentados da história do início do Brasil. “Carlota Joaquina – princesa do Brazil” foi o filme que além de levantar o cinema brasileiro novamente, conseguiu tirar de livros uma das maiores comédias já filmadas no cinema tupiniquim.
A trama começa com a chegada da família real portuguesa ao Brasil colônia, que estava fugindo das tropas napoleônicas. Nesse momento você já consegue perceber o tom que vai ser estabelecido no decorrer do filme, piadas e figuras históricas sendo satirizadas de forma quase cartunesca em interpretações bem executadas pelo elenco que tem ótimos atores como Marco Nanini (D. João VI) e Marieta Severo (Carlota Joaquina). O humor até parece uma grande piada com portugueses sendo filmada, porém não cai no tom de trocadilho gratuito tão comum de se ver hoje em dia no cinema nacional.
A trama avança e a fotografia com a direção de arte servem como moldura de forma muito eficiente para o roteiro bem moldado que faz questão de mostrar que nenhum dos personagens em questão é uma figura acima de falhas. Até parece que esse é o traço mais recorrente em tudo que é mostrado, as falhas que construíram aquele período e fizeram o Brasil. Seja a falta de higiene das pessoas, sejam os decretos malucos de Dom João VI que expulsava pessoas de suas casas, seja os amantes de Carlota Joaquina que seu marido fazia questão de premiar. Tudo se mostra como um enorme deboche que não polpa ninguém.
A diretora Carla Camurati conseguiu com seu filme fazer algo que entretém muito bem e ao mesmo tempo consegue ser instrutivo, não que o filme seja totalmente fiel as suas figuras históricas, mas faz com que sua plateia veja a história nacional com outro olhar, mesmo que seja para zombar, as pessoas ficam interessados em saber mais sobre aqueles personagens e aquele período. No final do filme até tem uma fala que serve muito bem para explicar o tom de sátira do filme com a história, que acaba ironicamente servindo para os dias atuais com relação as redes sociais e os seus comentários, “quanto mais se lê, menos se sabe”.
Claro que existem algumas falhas também, como o mal aproveitamento de certos personagens como é o caso de D. Pedro (Marcos Palmeira), que por mais que esteja bem caracterizado como um príncipe preguiçoso que só quer curtir a vida, ele acaba tendo pouquíssimas cenas e até nos seus poucos momentos de tela não consegue ter um momento de impacto apropriado.
“Carlota Joaquina – princesa do Brazil” é um filme ácido, engraçado e marcante. Quase como uma sobremesa que te faz esquecer algum problema que pode ter enchido sua cabeça durante o dia, é bem possível que essa tenha sido uma das intenções da diretora, já que o país estava ainda se recuperando da era Collor e nossa recém democracia conquistada ainda engatinhava. Revisitando esse filme a plateia até possa se sentir nostálgica e faça uma comparação com certas obras mais recentes como “Polícia federal – a lei é para todos” e perceba que certas sátiras conseguem ser levadas muito mais a sério do que filmes que tentam ser sérios e não conseguem.
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Por Fernando Targino
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