Estreou neste mês de março, no espaço Oi Futuro (Flamengo), um espetáculo infantil que trata lindamente de um tema profundo: A morte. “Casa Caramujo”, consegue abordar de maneira lúdica e muito leve as impermanências da vida, sendo um gracioso presente para adultos e crianças.
Em nosso contexto social, não somos educados para lidar ou aceitar perdas – em especial as irreversíveis -. Em nossa cultura, que estimula o apego desde muito cedo (seja ele às pessoas ou coisas), somos doutrinados a temer as mudanças. Isso desperta sentimentos controversos, não permitindo que a vida possa ser degustada no presente e gerando sofrimento (já que, neste mundo tudo é passageiro, inclusive nós).
Dentro desta condição, entender e tratar a morte como parte de um processo natural, tão necessária quanto a própria vida, se torna uma tarefa difícil. E, nesse ponto, o espetáculo é muito feliz! Consegue trabalhar ao mesmo tempo o medo que sentimos de perder pessoas que amamos, e a necessidade de saber deixar a vida seguir seu curso.
Jonathas é um menino que vive feliz com sua mãe em uma vila. Muito doente, no entanto, essa mãe explica para seu filho que seu fim está próximo, mas que isso não é algo ruim. E sim, parte de um processo natural. Ao sair para buscar um médico o rapaz se depara com a morte, com quem valentemente conversa e, em um ato desesperado, a aprisiona em uma casa de caramujo que foi deixada no píer por seu dono (caramujo), para tomar banho. Ao retornar para casa, o rapaz encontra sua mãe bem de saúde e muito disposta. Só que, uma vez que a morte não poderia mais trabalhar, nada mais pôde morrer. E por isso não era mais possível colher nenhum vegetal ou abater qualquer animal para alimentação… Mesmo os ovos não se quebravam mais.
Esta visão, um pouco parecida com o que lemos em “As intermitências da morte”, de José Saramago, traz de forma precisa a noção de que morrer é um processo fundamental da vida. Na peça, diferente do livro, a maneira como a mensagem é passada é repleta de poesia e criatividade. Nesse ponto, se destacam o cenário, a iluminação, os bonecos e os figurinos utilizados em cena. A iluminação (até um pouco sombria), de Paulo Cesar Medeiros, delimita espaços, envolve os espectadores e permite a utilização de bonecos que flutuam em cena. Os figurinos de Luciana Anselmi, passeiam da simplicidade de moradores de uma pequena vila, à complexidade de um caramujo e da morte. O trabalho de caracterização associado ao treinamento corporal de Fernanda Vieira, resultam em personagens que comunicam com o público infantil com verdade. O cenário (Gustavo Paso e Luciana Anselmi), aparentemente simples aos poucos e revela seus encantos: Um mesmo objeto cênico dava origem a diferentes propostas (cama, piér, mercearia), além de outros truques divertidos. A trilha sonora também dá um show à parte, complementando todos esses itens de maneira perfeitamente encaixada.
A direção de Gustavo Paso consegue desenvolver um trabalho profundo, belo e de muita qualidade em conteúdo e estética. Os atores apresentam trabalhos consistentes, com destaque para Marcio Nascimento, no papel de um divertido e atrapalhado dono de mercearia/cozinheiro.
Essa preciosidade fica em cartaz até o dia 28 de maio, e com um preço convidativo. Então, não perca a chance de prestigiar esse trabalho sensível. Acesse nossa agenda e saiba outras informações.
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