Ricos e disfuncionais
Ter um escritor na família ou no círculo de amigos pode representar um alto risco de ter sua vida exposta em uma suposta história de ficção. Nomes trocados podem não ser suficientes para ocultar devidamente aquele esqueleto no armário. É o que acontece em “Chronically metropolitan”, quando o jovem Fenton Dillane (Shiloh Fernandez) publica um texto na aclamada revista “The New Yorker” e acaba fugindo para a Califórnia para não aguentar as consequências de seu ato: a raiva e a mágoa de todos que se sentiram expostos naquelas páginas. Entre os envolvidos, os pais da então namorada, Jessie (Ashley Benson), que acabou abandonada sem maiores explicações.
A longa introdução do filme alterna cenas da volta de Fenton à Nova York, desde o pouso do avião, passando pela vista dos prédios da cidade, até chegar em casa, com cenas em que seu pai, Christopher (Chris Noth) dirige por uma estrada enquanto duas de suas alunas lhe oferecem bastante diversão. O professor recita Yeats, que as aspirantes a escritoras desconhecem, e a combinação de pó, bebida e brincadeiras sexuais termina com o som de uma freada.
O filme reúne elementos estéticos que mostram que a família em questão é bem abastada: figurinos estilosos, decoração um tanto excessiva, porém de alta qualidade. Bebe-se champanhe sem motivo especial, fuma-se maconha fornecida por um amigo de Fenton, John (Josh Peck) e os personagens parecem afetados ou blasés. É verdade que sofrem e sentem raiva, mas a intensidade com que expressam seus sentimentos é bastante controlada. Isso se nota principalmente no sarcasmo da irmã Layla (Addison Timlin) e na elegância da mãe Annabel (Mary Louise Parker), esposa traída que tenta manter a compostura a maior parte do tempo, o que faz sua eventual perda de controle um espetáculo a parte.
Fenton encontra-se diante de um bloqueio criativo, e o recurso utilizado para mostrar isso é a constante aparição de uma página vazia na tela de seu computador. O personagem, indeciso e imaturo, não tem carisma suficiente nem gera muita empatia. Já a atuação de Chris Noth como mulherengo irresponsável e egocêntrico é a melhor coisa do filme. Embora o roteiro de Nick Schutt careça de maior consistência, suas falas são ótimas (“Todas essas garotas se jogando pra cima de mim”) e repletas de cinismo. O personagem John, a princípio desinteressante, tem um momento curto porém marcante no filme, por sua fala surpreendente e incisiva. E Layla é sempre muito cortante com o irmão; em uma das cenas, vê-se ao fundo, na parede da cozinha, uma coleção de facas. Boa sacada.
O filme, que é a estreia de Xavier Manrique na direção, em certa altura desvia o foco dos dilemas do jovem escritor para suas tentativas de reaproximação com Jessie, que está de casamento marcado para dali a uma semana. Há uso de flashbacks que mostram como um dia houve afeto e amor entre os dois, o que contrasta bastante com a postura sempre raivosa e hostil da ex-namorada. Em mais de um momento a câmera acompanha a dupla caminhando na rua. Em uma das cenas, suas roupas em tons mais vivos se harmonizam com o colorido de Chinatown, onde Jessie vai comprar comida. Já em outra situação, suas roupas em tons frios convivem com o ambiente da rua coberta de gelo.
Nova York é quase uma personagem. São muitas as cenas mostrando o trânsito, a movimentação da cidade e, principalmente, o estilo de vida dos moradores do Upper West Side. Embora no aspecto estético “Chronically metropolitan” funcione, há a sensação de falta de aprofundamento da história e de seus personagens. Algo que escritores com bloqueio criativo provavelmente entenderão.
Neuza Rodrigues
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