Em 2017, o termo “fake news” foi eleito palavra do ano pelo Dicionário Oxford e desde então se encontra cada vez mais presente em nossas vidas cotidianas. Naquela época, a relação das tais notícias falsas se relacionava largamente ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e também ao processo do Brexit. Não demorou para que episódios semelhantes chegassem ao Brasil e que mudassem radicalmente o país, desde as instâncias mais inocentes até as esferas políticas mais densas. O curta-metragem “Copacabana – Madureira” tem, nas fake news e em seus desdobramentos, a principal questão que leva para a tela.
É preciso dizer, portanto, que o filme possui temática essencialmente política e social. Seu início deixa essa intenção bem clara, e satiriza muitas das fake news e correntes espalhadas por meio de mensagens de texto ao longo da corrida presidencial brasileira de 2018. Felizmente, no entanto, a temática da obra não se limita a isso e se articula de modo tanto interessante como denso. É normal, e até bem frequente, que filmes carregados desse tipo de debate soem óbvios, didáticos ou superficiais naquilo que carregam enquanto mensagem.
“Copacabana – Madureira” vai além e usa as fake news como ponto central daquilo que quer passar, mas também como ponto de partida. Assim sendo, o diretor busca articular as consequências práticas de mensagens aparentemente inofensivas ou até ridículas dentro de eleições e mostra seus efeitos na realidade. Isso tudo feito com sofisticada abordagem, que conta com elementos experimentalistas mesclados com o há de tecnológico no dia a dia, como os emojis que aparecem durante a projeção ou os áudios de Whatsapp que podemos ouvir também nela. Martinelli já mostrava seu interesse em abordar tais elementos do mundo da internet e de redes sociais em “Lembra”, seu último trabalho, mas amadurece essa proposta aqui.
A articulação entre o virtual e o real, entre a causa e a consequência não seria a mesma não fosse a montagem. É ela que dá liga para as propostas abordadas, sabendo trabalhar bem os signos que vão aparecendo aqui e ali e explorando seus significados. Então, é possível afirmar que esse aspecto do filme que melhor explora a dicotomia do título do filme, contrapondo os bairros cariocas de Copacabana e de Madureira. Ambos são diferentes de diversas formas, escolhidos aqui para ilustrar as denúncias sociais colocadas pelo curta. As localidades não só são contrapostas, mas muitas vezes trabalhadas de modo simultâneo, o que foge da obviedade de uma comparação mais simples.
Por outro lado, o design de som ajuda na imersão e em dar o peso necessário para o que é mostrado em tela. Barulhos de tiro ou o hino da bandeira tocado em versão desacelerada são angustiantes e casam muito bem com o tom debochado e melancólico de “Copacabana – Madureira”. Muito do que é contado aqui se dá pelos já mencionados signos, mas não seria igualmente eficaz sem que houvesse esse forte apelo auditivo. Inclusive, se já há clima lamentoso, é a trilha que o intensifica e dá aura ainda mais dramática para ele.
Inicialmente cômico e ironizante, mas se mostrando denso e pesado em seu desenrolar, “Copacabana – Madureira” é inteligente e ácida denúncia de problemas atuais que não é feita de forma rasa, contando com vanguardismo na medida certa e profundidade em seu discurso. A criatividade mostrada é intensa, no sentido mais positivo da palavra e convidativa, justo o contrário do Brasil revelado pelo curta. Seu problema mais grave, porém, é o de esse é o tipo de obra que gera reações extremas no público. Alguns vão amar, outros vão detestar, muito por conta do tom provocativo e da linguagem audiovisual utilizada. É preciso comprar a proposta apresentada e imergir nela, já que o contrário pode até gerar resistência ao ótimo trabalho de Leonardo Martinelli.
Imagens e Vídeo: Pseudo-Filmes
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