Qualquer tentativa de derivar de uma obra clássica já é, por si só, um ato de muita ousadia, mas será que vale a pena? Sim!

Monte Citerão, entre Tebas e Corinto. O jovem, de nome Édipo, é atingido por uma terrível profecia: seu destino é matar o pai e desposar a própria mãe. A fim de evitar o desastre, Édipo abandona Corinto, o lugar que o acolheu e chega às portas de Tebas, onde a Esfinge propõe-lhe um enigma. Se errar, morrerá. A resposta de Édipo salva a sua vida e a da cidade. Como recompensa, é ovacionado pelos tebanos inclusive Laio e Jocasta e se apaixona por…. Laio? Sim.
E é nesse nível de besteirol – termo de extrema importância para a história da dramaturgia – que o espetáculo escrito por Laura Rissin e dirigido por Adriano Coelho se coloca do início ao fim. A peça subverte a trama original de Sófocles em três atos costurados pelo coro e termina com um desfecho menos sofrido para Laio, Édipo e Jocasta – a tentativa de satirizar o clássico das tragédias é legítima e surpreendentemente agrada justamente por não se levar tão a sério.
Uma vez que o projeto é uma paródia, seus executores precisam abraçar o gênero e é o que os atores se comprometeram a fazer no espetáculo em questão – desde a primeira cena onde o coro de abertura declama um poema rimado já é possível identificar o tom certeiro de comicidade que permeia a peça – isso tudo sem abrir mão de características essenciais da tragédia grega clássica, um trunfo do texto é não sustentar a comédia apenas com referências da atualidade, as internas são sabiamente bem colocadas e não te tiram totalmente do cenário grego.

Os figurinos de Lessa de Lacerda são originais e estão a serviço da proposta do espetáculo. Fazer Édipo sem as tradicionais túnicas brancas que todo mundo espera já é um ato digno de aplausos e alívio para os olhos. A utilização de cores em abundância traz um requinte cômico além de contribuir para a individualidade de cada personagem: Uma rainha mais pomposa abusa do vermelho e um Édipo mais preocupado em exibir o corpo usa pouca vestimenta por exemplo.
Os protagonistas são interpretados por Francisco Vitti (Édipo), Gabriela Rosas/Verônica Reis (Jocasta), José Karini/Rodrigo Candelot (Laio) e Beto Bruno (Creonte). O coro é formado por Breno Motta, Cadu Libonati/ Hugo Lobo e Ranther Melo que alternam outros personagens. Nenhuma interpretação tem grande destaque mas a sintonia entre o elenco é afiada e estável.
O complexo de Édipo toma proporções catastróficas e hilárias nesta proposta, vale a pena conferir a peça única e exclusivamente por se tratar de uma farsa, existem muitas montagens da clássica tragédia, mas essa é a primeira que tem a ousadia de rasgar na comédia, uma boa pedida para quem quer gargalhar e se surpreender no final de semana.
Por Rayza Noiá

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