um drama com crianças, realizado de forma madura.
A produção é baseada no romance homônimo escrito em 2012 por R.J. Palacio, que conta a história de Auggie Pullman (Jacob Tremblay – “O Quarto de Jack”), um garotinho que nascera com uma séria e rara síndrome genética que mesmo depois de passar por necessárias 27 cirurgias, um elevado número de intervenções, ainda sim apresenta deformidades em sua face.
Nos primeiros minutos a difícil informação do drama vivido por Auggie é contada pelo próprio personagem que, apesar de saber o peso de sua história, descreve de forma leve e um tanto carismática, garantindo a simpatia do expectador logo de cara.
Após 10 anos de educação domiciliar, a família de Auggie decide matriculá-lo em uma escola regular, uma difícil decisão que coloca a todos em total estado de atenção, inclusive o próprio, que precisa aprender a lidar com os olhares de consternação por sua aparência.
Os pais por trás dessa difícil decisão são Isabel (Julia Roberts – “Closer: Perto demais” e “Uma linda Mulher”) e Nate (Owen Wilson – “Meia-Noite em Paris” e “Penetras Bons de bico”). Roberts interpreta uma mãe super participativa, compreensiva e protetora que abre mão de sua vida pessoal para cuidar do mais novo membro da família. Sua atuação entrega uma sintonia incrível, diálogos bem construídos e intensidade que mexe com o público.
Já Wilson é mais comedido. A baixa necessidade de grande atuação por parte de seu personagem faz com que sirva a trama como alívio cômico, ferramenta para o desenvolvimento de personagens e ambientação.
Assim como no livro, o longa é dividido em capítulos que recebem o nome do membro da família a contar sua perspectiva do enredo A mãe; o próprio Auggie; Via, a irmã mais velha, e a melhor amiga de Via devido sua proximidade com a família. A figura paterna no filme não recebe um capítulo com sua visão, o que deixa ainda mais claro seu caráter auxiliar na trama.
Izabela Vidovic (“Supergirl”), como Via é crucial na trama familiar. Ela interpreta o papel de uma jovem que, devido a maior necessidade de atenção por parte de seu irmão, é vista como coadjuvante na família e por isso luta para ser notada. Ela atua de forma madura e bastante natural, contribuindo para tornar mais denso o drama familiar. Apesar de Auggie centralizar a maior parte da trama, sua personagem é o principal galho condutor para que o enredo não foque de forma maçante na problemática do caçula da família. Ela serve para transparecer ao expectador a visão de multidimensionalidade daquele universo, trazendo seus dramas próprios e dando características orgânicas a relação familiar. Em uma de suas cenas podemos ver inclusive Sônia Braga que numa rápida, mas não menos eficiente aparição, interpreta a avó de Via.
Ainda que muito jovem, Jacob Tremblay impressiona pela expressividade, naturalidade e carisma. Com o rosto absorto por uma pesada maquiagem, ainda sim ele consegue passar toda a consternação e expressividade de seu papel. O que não é novidade, pois seu talento já pudera ser observado em “O Quarto de Jack”.
Impossível não reparar no grande êxito de atuação das crianças no longa. Diversas cenas densas, cheias de complexidade são interpretadas levemente, sem caricaturas ou exageros. Noah Jupe como Jack Will, Millie Davis como Summer e Bryce Gheisar como Julian, são os grandes destaques infantis na produção.
O diretor Stephen Chbosky (“A Bela e a Fera” e “Jericho”), que também já havia nos apresentado o sensacional ‘As Vantagens de Ser Invisível’, mescla humor e drama de forma bastante eficiente. Mesmo tocando em assunto tão delicado e urgente quanto o bullying, ele consegue ser leve e genuíno, emocionando o público sem menosprezar sua inteligência.
Uma ferramenta um tanto interessante utilizada pelo veterano diretor de fotografia Don Burgues (“Forrest Gump” e “Homem-Aranha”), foi a adoção de uma câmera que acompanha, quase na maior parte do tempo, a altura do olhar de Auggie, funcionando como recurso gerador de empatia e aproximação do expectador com o personagem. Uma técnica de linguagem já explorada no cinema em filmes como “E.T – O Extraterrestre”.
A suave trilha sonora também contribui para a leveza na forma que a história é contada. Sem adotar melancolia, ela envolve e emociona sem apelar. Não adota clichês de violinos ou solos sofridos de piano para envolver o expectador. Assume seu papel de trilha se encaixando gentilmente as cenas.
“Extraordinário” apresenta um roteiro bem encaixado. Para quem leu talvez hajam algumas falhas ou peças faltando, mas é bom lembrar que a obra se trata de uma adaptação e não cópia. Ainda sim ele é bem sucedido, com muitos acertos.
Um filme cujo elenco é em sua maioria crianças, entretanto com um conteúdo maduro e necessário, que deveria ser assistido por todo tipo de público. Estará disponível nos cinemas no dia 07 de dezembro.
Por Isa Fernandes
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