Neil Gaiman é o nome do momento para as séries de tv. Com o sucesso de “Deuses Americanos” e o vindouro projeto de Sandman pela Netflix, o autor se estabelece como um dos grandes expoentes da fantasia contemporânea, mas com a popularidade vem o questionamento: será que Gaiman é tão capaz de comandar suas produções audiovisuais quanto nos quadrinhos e na literatura?
Baseado em um livro homônimo escrito por Neil Gaiman e Terry Pratchett, a nova série do Prime Video, segue um anjo e um demônio (vividos por Michael Sheen e David Tennant), cuja a antiga amizade se vê ameaçada com o fim do mundo. Agora cabe a eles encontrar o anticristo e, com isso, impedir o apocalipse.
Apesar do nome de Terry Pratchett ter sido eclipsado pelo nome de Gaiman, muito do que a série tem de melhor, vem de suas peculiaridades literárias. Os interlúdios de Deus; as interrupções através de um narrador funcionando como notas de rodapé e etc. Essa flexibilidade textual permite que a narrativa fuja um pouco do caráter emergencial da trama e transite, entre diferentes momentos no tempo, bem como as mais variadas situações.
Todos essas batidas de roteiro dão um aspecto lúdico e quase satírico ao texto. Com isso, ao abordar alguns temas – dentre eles a narrativa bíblica – lembra muito as sketchs do grupo Monty Phyton (o trecho da série em que os protagonistas conversam enquanto assistem a crucificação talvez seja o melhor exemplo) e escrita surrealista de Douglas Adams em seu “Guia do Mochileiro das Galáxias”.
Só é uma pena que toda a parte fantástica fique a cargo do roteiro, e a linguagem visual acabe por ficar no “feijão com arroz” de sempre. Ao que parece, Gaiman não se preocupa com uma identidade visual própria (algo que também foi alvo de reclamações na segunda temporada de “Deuses Americanos”), deixando bem perceptível no uso quase novelesco de plano e contra plano durante vários diálogos.
Isso não seria um problema a priori, porém, a utilização de uma montagem ágil, acaba criando um contraste com o uso conservador da fotografia. O ritmo no primeiro episódio é quase um elevador subindo durante as narrações divinas (que contam com a voz de Francis Mcdormand como Deus) e descendo durante os diálogos, que apesar disso, não perdem sua força, graças a o humor ácido e aquele que é o maior acerto da série: seus protagonistas.
É impressionante a química que David Tennant e Martin Sheen conseguem empregar a seus personagens Aziraphale e Crowley. Já nas primeiras cenas, são opostos em todos os sentido, mas mesmo assim, parecem se complementar o tempo todo. O corpo magro e esguio de Tennant contrastam com as feições redondas e inocentes Sheen, que por suas vezes traduzem perfeitamente a ideia de demônio e anjo. O episódio 3 é puro exercício de interpretação por parte da dupla de protagonistas. Variando entre momentos diferentes da vida de seus personagens, podemos ver o trabalho minucioso na construção e evolução da sua amizade.
“Good Omens” pode não ser a produção que irá lançar Gaiman como um dos grandes showrunners da atualidade, mas sem dúvidas, é um grande exemplo de seu potencial.
https://youtu.be/hUJoR4vlIIs
Imagens e Vídeo: Divulgação/Amazon Prime Vídeo
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