A internacionalmente conhecida cia franco-brasileira Dos à Deux traz aos teatros do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) um novo número cheio de mistério e que promete deixar o público perplexo.
Em cartaz no Rio de Janeiro (desde novembro), o número possui um ar sombrio, dando uma atmosfera de filme de terror ao tratar questões reais. Discute em três poemas gestuais problemáticas de escala global, contudo, com uma abordagem inovadora e muito diferente da usual.
O espetáculo tem na iluminação (brilhantemente realizada por Artur Luanda Ribeiro e Hugo Mercier) um elemento fundamental, possibilitando a ambientação das cenas e propiciando ilusões de ótica que fazem o expectador esfregar os olhos. A cia tem como característica de seus trabalhos a utilização de “bonecos” (não são exatamente bonecos inteiros, mas partes, que combinados com os demais apetrechos de cena, constituem personagens tão relevantes quanto os próprios atores). Essa opção reforça o ar inovador do grupo, e mostra que gestos tem elevado poder comunicativo, podendo substituir a fala e a própria expressão facial.
O trabalho é extremamente visual, e a sonoplastia – criada por Fernando Mota, Belo Lemos e Marcelo H – ajuda a contar três histórias friamente reais. O espetáculo possui um único texto, e todo o restante é embalado por músicas capazes de despertar sentimentos profundos (muitas vezes com aquela sensação de indigestão constante). O cenário também possui papel fundamental e simbólico nas histórias contadas. A mesma estrutura é utilizada de maneira inteligente nos três poemas, delimitando os espaços e auxiliando a compreensão das relações estabelecidas entre personagens (humanos ou bonecos).
Os três gritos encenados contam realidades diferentes, com características comuns: o amor, o espaço cerceado e as privações de liberdade. Em “Louise” é contada a história de uma jovem trans que sofre a pressão de estar fora do padrão socialmente imposto como desejável; “O homem” narra (de forma profunda e subjetiva) o que se perde enquanto essência dentro do mundo no qual vivemos, fala sobre a dor dos vazios e dos excessos; e, por fim, “Kalsun” descreve o amor em contextos de guerra, a dor e a perda, e, de forma dura, atribui a responsabilidade social que todos nós temos frente a essa realidade.
A Companhia iniciou suas investigações em 1998, um ano após Artur Luanda Ribeiro e André Curti se conhecerem em Paris e decidirem iniciar um trabalho diferenciado. Atualmente já se apresentaram em mais de 50 países. Eles são os responsáveis por grande parte de todos os processos que envolvem este espetáculo, passando pela concepção, direção e atuação. O que deixa tudo o que se vê ainda mais autoral, pessoal e orgânico.
Com patrocínio do Banco do Brasil, ficam em cartaz no CCBBRJ até 16 de janeiro de 2017, partindo para Brasília onde ficam de 8 de fevereiro até 5 de março, depois São Paulo de 11 de março até 24 de abril, e encerram em Belo Horizonte de 4 de maio até 12 de junho.
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