Inovador e polêmico
O filme franco-japonês “Hiroshima, Meu Amor” de 1959, dirigido por Alain Resnais e com roteiro de Marguerite Duras ganha versão restaurada.
O drama traça a história de um relacionamento amoroso entre uma mulher francesa e um japonês. Considerado inovar por fazer uso de flashbacks, é um dos filmes mais importantes da história do cinema e ganhou fãs famosos ao redor do mundo como os cineastas Jean-Luc Godard e François Truffaut. Sua estreia no final da década de cinquenta foi polêmica por possivelmente ofender descendentes alemães e por isso foi retirado da competição oficial do Festival de Cannes em 1959. Pelo mesmo motivo, também não pode concorrer a Palma de Ouro. Mas o filme permanece até hoje como um dos grandes ícones revolucionários do cinema francês e um dos mais famosos e influentes da geração Nouvelle Vague.
Seus personagens centrais são Elle, uma atriz francesa (Emmanuelle Riva) que passa seu último dia na cidade de Hiroshima terminando sua participação em um filme sobre a paz, e um arquiteto japonês (Eiji Okada). O filme analisa a memória, a psicologia e o comportamento dos personagens, ambos casados e cheios de traumas, vivendo em um mundo sem perspectiva.
Nos dois dias em que passam juntos várias lembranças vem à tona enquanto esperam, com angústia, a hora da despedida. Elle conta que se apaixonou por um alemão (Bernard Fresson) quando tinha apenas dezoito anos e morava em Nevers. Por ter amado um inimigo ela foi aprisionada por sua família numa fria e escura adega e agora, 14 anos depois, novamente sente o gosto de viver um amor quase impossível.
O diretor Alain Resnais se dedicou durante 10 anos a curta metragens documentais, onde já explorava alguns conceitos presentes em “Hiroshima, Meu Amor”. A curiosidade é que esse filme era para ter sido um documentário sobre a reconstrução de Hiroshima depois da destruição provocada pelo lançamento da primeira bomba atômica da história pelos aliados na Segunda Guerra Mundial.
A partir desse fato, é fácil entender o processo pelo qual essa obra passou, evoluindo de um documentário histórico para um longa metragem que é, antes de mais nada, uma crítica forte a Segunda Guerra Mundial e ao lançamento da bomba em Hiroshima. O filme fala também da necessidade de se esquecer acontecimentos extremamente traumáticos para se continuar a viver, ainda que num mundo sem expectativas. É aqui que se encaixa o caso amoroso entre Elle e seu amado arquiteto japonês. O simbolismo das relações é claro e evidente: ambos são casados e tem consciência de que este romance está condenado. Porém, continuam a se encontrar, unidos pela dor de experiências semelhantes e estabelecendo um contraste entre o passado e o presente. O filme é narrado pelos personagens centrais, e traz belíssimas e chocantes imagens em preto e branco. Apesar de seu ritmo lento, é uma obra de arte que merece ser vista.
Por Thiago Pach
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