Imperfeitos é a mais nova série de dramédia da Netflix. Uma ficção científica adolescente? Um produto de cultura revolucionário para adultos? Ao longo dessa crítica, sem spoilers, vamos viajar pelo fabuloso mundo de “O que deu errado com Imperfeitos?”.
Unidos pelas circunstâncias
E se a gente juntasse três jovens adultos em uma série adolescente camp, recheada de gore, sobre o uso ético da ciência? Para os mais implicantes, se isso parece um remix enlatado de tudo que você já viu outras quinhentas vezes, seu palpite não está tão distante.
Tilda, Juan e Abbi, o trio de protagonistas, são três jovens adultos que tiveram suas vidas transformadas para sempre quando, enganados ainda menores, foram transformados em “monstros” em um experimento do sádico Dr. Sarkov, um cientista sem quaisquer escrúpulos.
Os desconhecidos se encontram quando o estoque do remédio supressor de seus poderes acaba. Sem entregar revelações do enredo além da premissa, o grupo se vê em uma jornada ora como gato, ora como rato, atrás daquele que é o único que pode resolver o seu problema com os poderes.
“Mas será mesmo que eles querem ser ‘curados’?”.
Juan, é um chupa-cabra (“chupi”) e quando se transforma, sem querer, é o terror dos animais da vizinhança — mas curiosamente não persegue humanos; Tilda é uma Banshee, tem supervoz e audição — e por isso precisa usar fones para sua cabeça não doer com tanto barulho, e sem a pílula fica impossibilitada de liderar sua banda de rock; enquanto Abbi é uma súcubo, seus feromônios fazem qualquer um que sintam seu cheiro entre um transe, a obedeçam e queiram “tocá-la” — mas é assexual…
Essa base do roteiro deve oferecer ao leitor que caiu de paraquedas alguma noção do que é “The Imperfects“. Descrita como uma história “coming of (r)age” (raivadurecimento), o trio vai aprender que suas habilidades não são tão ruins assim, e que com grandes poderes vem grandes responsabilidades.
Respira…
Exagerado, mas não ousado
De maneira sucinta, essa não é uma série para ser levada a sério, e não há nada de errado nisso. Imperfeitos aposta no teatral, no absurdo para criar sua atmosfera, mas não sai muito da superfície ao não acertar seu tom: nem é extravagante no ponto certo, nem provocativa — falta sal — o que dá um tom trash de “quase lá, mas nem tanto”.
Os produtos de mídia hoje em dia precisam ser todos satíricos para ser bons? Em um mundo em que precisa apostar no absurdo para quebrar a mesmice, como fazer humor sem só soar canastrão? Vamos com calma. Imperfeitos pode não ter pretensão a quebrar a roda, e tá tudo bem — mas nem tanto assim.
Que tal NÃO falarmos sobre o desenvolvimento dos relacionamentos românticos na série, o quanto eles adicionam nada ao andamento da trama e quanta química os romances principais tem? Cena desnecessária de sexo? Check. Conveniência de roteiro? Check.
Não se trata de tudo precisar ser uma (grande) crítica social ou criar algo novo, manter as fórmulas de sempre é perfeitamente ok, o que não anima é quando, dentro de uma proposta “tão ruim que é bom”, nem o roteiro, nem os personagens, nem os ganchos de uma produção feita para maratonar funcionam, o que nos leva ao terceiro ponto.
“Violência = Entretenimento”
Já reparou que de tanto acostumados com a violência, banalizamos a questão? Isso não é crime algum, quase toda plataforma não voltada exclusivamente ao público infantil é cheia de títulos que o fazem. Imperfeitos é cheio de pequenos problemas aqui e ali em razão dessa escolha — e por quê?
Apesar de sua classificação 16+ (18+ nos EUA), tendo cenas bem gráficas de violência, é extremamente recorrente que o contexto torne algo minimamente risível, ou melhor, tente tornar. Retomando o tópico anterior, falta coragem de fazer algo a mais que só escatológico.
Com isso não se pretende, novamente ressaltando, proibir, rechaçar, ou sugerir que isso seja moralmente errado. O show tem uma classificação alta, é cheio de clichês de apelo adolescente, entretanto falha em entreter o jovem adulto por entregar não sair do medíocre; qual é o público alvo, afinal?
Nada mais é provocativo / Nem para as crianças.
“Sex Yeah”, Marina and the Diamonds (2012).
Maratonabilidade
Permita-se dizer que Imperfeitos tem as suas “canetadas”. Seja por uma música pop aqui, uma frase de efeito de empoderamento, um ator latino interpretando um chupa-cabra… porém falta conexão.
Como é que um ator de novela consegue manter uma trama interessante e amarrada por duzentos capítulos? Ele não consegue, por isso as “barrigas” — agora diga isso para um grande sucesso, seja qual for sua opinião a respeito, como “Avenida Brasil”.
Meio a uma política e estratégia de lançamentos para consumo e descarte rápido da Netflix, o mínimo que Imperfeitos poderia entregar, além de alguns raros momentos satisfatórios ao público, é que a série se cumpra ao papel de “delivery de entretenimento”, e novamente nos deixa a desejar — uma pena, pois há um potencial enorme em brincar com o que sua proposta flerta.
Em conclusão, não se pode ser, no entanto, tão duro com seus frutos. É uma série mediana — fim — e que quiçá não será renovada. Sua evolução melhora alguma coisa lá para os quarenta e cinco do segundo tempo, mas só. Quem sabe com um pouco menos de romance compulsório, com roteiristas mais ácidos e mais divulgação Imperfeitos não sobreviva para ver a luz de uma Season 2?
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