É possível separar a obra do artista? Ou melhor, a obra é o artista? Para o muralista Eduardo Kobra, a melhor forma de conhecê-lo é através dos seus imensos murais espalhados pelo mundo. E isso é exatamente o que sentimos no belo documentário “Kobra: Auto Retrato” de Lina Chamie.
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O documentário se alterna entre a contemplação das obras de Kobra com belíssimas tomadas usando drones e closes precisos no artista, enquanto ele narra sua trajetória. Essa narração, por vezes, é invadida por momentos de pausa e silêncio do artista. Além disso, em determinados momentos, cores e texturas se sobrepõem à sua imagem, unindo arte e artista.
Para além da beleza e da qualidade técnica do documentário, a história de Kobra é inspiradora. O paulistano que viveu a infância na periferia, fala com muita delicadeza sobre momentos difíceis de sua vida: a saída traumática da casa dos pais, seus problemas com insônia, os dilemas enquanto artista conhecido e reconhecido mundialmente.
Um dos momentos que mais emocionam, com toda certeza, é a reflexão de Kobra sobre como construiu seu caminho como pai. Ele deixa claro que a relação difícil que tinha com seu pai (uma pessoa fria, em suas palavras), o incentivou a buscar ser um pai mais generoso, presente e afetuoso com seu filho Pedro.
A evolução como pessoa se reflete em suas obras
Também é muito interessante ver a evolução de Kobra como artista. Acompanhamos desde o primeiro trabalho remunerado no parque de diversões Playcenter em São Paulo, às críticas que o levaram a se aprimorar e encontrar a estética que virou sua marca registrada: o hiper-realismo dos rostos contrastando com cores e formas geométricas, que saíram do Brasil para conquistar o mundo.
Mas o que mais comove nas obras de Kobra, é sem dúvida alguma, a presença de questões de alta relevância social nos murais. Mesmo quando pinta um rosto conhecido, este tem o seu lugar na beleza e no caos das ruas. O documentário abre a porta para diversas discussões sobre o que fazemos com o espaço urbano. Certamente, os problemas ultrapassam a mera conservação dos edifícios, para como pertencemos às cidades.
Ao final, o que Kobra nos deixa é que a arte é indissociável do artista, e é possível fazer dela e de si mesmo, uma mensagem de paz. Que resistir e lutar com generosidade e amor é uma possibilidade real.
*Esse filme foi assistido durante o Festival do Rio 2022.
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