Qual é o trajeto que você percorre todos os dias? Seja o percurso de casa para o trabalho, seja qualquer percurso que se tornou rotineiro. Durante o caminho, as paredes possuem pichações? Grafites? Lambes? Se sim, quantas vezes você já parou pra observar essas intervenções artísticas na cidade? Questionando essa percepção da sociedade que vive imersa em um mundo inundado por estímulos visuais, sufocada pela rotina que nos faz perder os sentidos, o cineasta Marcos Pimentel produz seu mais novo documentário “Pele”. Apropriando-se das paredes de cidades do Brasil, o diretor filma os grafites enquanto os moradores das regiões seguem seus dias, imparciais as obras que são expostas ao ar livre
“Pele” começa com a sucessão de imagens de algumas pixações que possuem algumas similaridades, navegando lentamente por elas, nos fazendo realmente contemplar e naturalmente comparar uma com as outras. Entretanto, em primeira instância, o pensamento que corre a cabeça nos primeiros minutos é a de considerar que o documentário irá se limitar a ser somente uma boa montagem de filmagens das paredes das cidades. Pensamento esse que logo é quebrado. Marcos Pimentel compreende que nessas paredes está presente a expressão de indivíduos silenciados, e que ali encontraram uma forma de fazer serem ouvidos, mesmo que ainda de forma silenciosa. O filme então toma aspecto político, e mostra que nos prédios está cravado o grito de um povo marginalizado.
Uma visão única sobre o modo de vida urbano
Ao longo do documentário, pessoas são filmadas em suas rotinas, transitando por entre as intervenções artísticas, fortificando a mensagem do filme de que essas obras são ignoradas. Contudo, o diretor opta por convidar artistas para que performem frente as câmeras. Mesmo que o resultado seja um belo take de um homem praticando Tai-Chi; ou uma incrível montagem de um homem fazendo manobras de parkour, levando nosso olhar para as pixações; o filme peca pelo excesso dessas interpretações, e esvazia o sentido dos planos onde o povo interage de forma natural frente a câmera, nos fazendo questionar se eles também estão performando ou não.
Outro aspecto que, ao pecar pelo excesso, diminui a potência do documentário, é a forma como o som foi utilizado. Aqui, misturado aos sons já bastante altos da cidade, a equipe sonora do projeto utiliza de altos sons não-diegéticos que estão presentes ao longo de grande parte da uma hora e vinte do longa. O resultado é extremamente incômodo, e por diversas vezes, pode vir a te tirar do filme. Em outras ocasiões, o diretor opta por utilizar áudios de arquivos, o que alinhado com os dizeres nas paredes, pode se tornar extremamente redundante. Um exemplo são os dizeres como “Lula livre”, e ao fundo, o som de uma passeata que foi organizada em favor do político, onde os protestantes estão justamente gritando: Lula Livre.
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Mesmo com essas pequenas questões, “Pele” cumpre seu papel. É impossível não sair da sessão e ter uma percepção completamente diferente da cidade. O documentário é extremamente potente e preciso em sua mensagem, e com certeza nos fará escutar o que as paredes tem pra nos dizer.
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