Uma adaptação que parece ter agradado o público: Lockwood & Co. é a adaptação de romance do mesmo nome, estreada no último dia 27 na Netflix. Com oito episódios, a série contempla formado já bem conhecido pelo público no lançamento de obras do tipo para o catálogo. Confira nossa crítica sem spoilers.
Londres, sempre tão charmosa
Um dos grandes méritos de Lockwood & Co. está no charme dado à ambientação. Mas que palavra vaga! Sejamos mais específicos: há uma bela dedicação em zelar pelos detalhes e oferecer um Reino Unido assolado pela “praga fantasmagórica”.
Um ótimo exemplo disso é a escolha dos diretores por banir na primeira temporada os flashback; o espectador só tem uma vaga noção de como tudo começou, mas está convencido que o problema é sério e é convidado a coletar as peças desse mistério junto com o trio protagonista.
É verdade que a apresentação da trama é exatamente aquilo que você há de esperar ao receber algumas informações base: adaptação infanto-juvenil, caça-fantasmas, possível romance adolescente… será que já não vimos essa história antes? Contudo, isso quer mesmo dizer que a série é ruim? Não necessariamente.
Narrativa sobre escolhidos e de passagem à vida adulta estão por todo lugar — pense nas suas produções e histórias favoritas, e se essas “coincidências” são tão utilizadas é porque funcionam. De modo frio, no entanto, em alguma dose Lockwood & Co. pesa a mão nesses artifícios, especialmente na season finale.
Seja o telespectador aquele do tipo detetive, ou o mais oblivioso, é próprio do gênero que todos se sintam abarcados. Em uma série de investigação como esta, e esse é o erro deste título, faltou ousadia de fazer além. Colocando em outras palavras: numa escala que vai de “Sherlock Holmes” a “Hercule Poirot”, Lockwood & Co. está no meio: nem tira soluções absurdas das vozes de sua cabeça, nem cria um (delicioso) rocambole com todas as pistas.
Uma das consequências da estrutura criticada no parágrafo anterior é que as engrenagens do texto estão visíveis em um nível desnecessário. “Agora vai aparecer um inimigo”, “agora fulano irá trair as expectativas”…
Agora.
O que nos leva ao próximo tópico.
E então todos viveram felizes para sempre
Se tem algo que L&C grita é a energia de romance adolescente do início dos anos 2010 — e isso não é uma crítica. Se essa demografia pode apenas dar a impressão de ter caído em declínio, uma boa produção como a da série nos lembra que meio a um mar de descartáveis para consumo rápido, há ainda investimento em obras interessantes — e ele não precisa de camp barato ou piadas sexuais a cada cena para se fazer valer.
Não há timing melhor que esse para trazer a adaptação para as telinhas. Tramas apocalípticas e fatais estão impregnadas no imaginário há tempos, hoje mais que nunca. O que isso quer dizer sobre nós? Reflexo da pandemia? Que é mais fácil imaginar o fim do mundo que o fim do capitalismo? Uma conspiração multibilionária de produtores executivos fãs do terremoto de Janete Clair? Nunca saberemos.
Sagaz mesmo é como a temporada deixa uma ponta para renovação da série, sem que ela seja por si só insuficiente. S01E08 de L&C deixa esse gosto de história da carochinha, que agrada, tem tom moralizante, mas capaz de te cortar o clima e lembrar que é só uma série. Como assim?
Sabe aquele clima de final de capítulo de novela em que o vilão é preso, a mocinha casa com o herói e todos se juntam para um flashmob? É mais ou menos isso, sem os exageros da licença humorística. Esse tipo de coisa não ocorre na vida real, e as consequências da jornada do trio da série não parecem ter deixado senão um final bom demais para ser verdade; e isso meio que já fica escancarado no meio da história.
Considerações finais
Tecnicamente, com exceção da já elogiada caracterização do plano de fundo, há de se fazer elogios à pós produção, afinal, os efeitos estão agradáveis e não destoam do storytelling. Quanto a atuação, próxima pergunta — digamos que não há do que se reclamar, mas carisma não é o pote de ouro nessas redondezas.
Devo ver Lockwood & Co.? Depende. Essa é certamente a série que você procura se quer esvaziar a cabeça e não pensar em mais nada, contudo não simplesmente medíocre como “Élite”, sim um bom respiro para quem quer ver uma série confortável, mas que tem a sua alma própria (lutar com espadas contra fantasmas, essa é a ideia mais estúpida que já vi — muito bom!).
Nessa toada, não é extremamente densa em construção de mundo como “Sombra e Ossos”, mas longe de ser um “Fate: Winx“, esvaziando o conteúdo em prol do maior acúmulo de tropos possível. Descrever as coisas pelo que elas não são é uma enorme armadilha, então considere isto como uma digressão mal-humorada.
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.
Sem comentários! Seja o primeiro.