Crítica: Luas de há muito sóis

O espetáculo ‘Luas de Há Muito Sóis’ é baseado no conto “As três irmãs”, do escritor moçambicano Mia Couto, e resulta de uma residência artística feita em Portugal com o diretor Moncho Rodriguez.

A peça usa máscaras e linguagem poética para relatar as fases da mulher (moça, mulher e velha) em alusão às fases da lua, onde Evelina, Flornela e Gilda são crescente, cheia e minguante, respectivamente.

Filhas do viúvo Rosaldo, as três crescem isoladas do mundo como propriedades exclusivas do pai. Entretanto, a chegada de um jovem forasteiro desestrutura a realidade da família. O conto dá lugar à jornada de três velhas irmãs que viajam num espaço ­tempo encantado em busca das portas do mundo, de si mesmas e de um destino mais amoroso.

Segundo Moncho Rodriguez, “Três mulheres, três vultos de aves velhas, três agouros, três desejos, três irmãs juntas e desencontradas, o espetáculo é um mergulho, com final surpreendente, nas profundezas e imaginários fantásticos do universo feminino”.

Apresentado pela primeira vez no Festival 22º Janeiro de Grandes Espetáculos, em Recife (PE), em janeiro de 2016, o espetáculo da Cia Nina recebeu sete indicações ao Prêmio Apacepe de Teatro: Melhor Espetáculo Adulto, Melhor Diretor, Melhor Trilha Sonora, Melhor Atriz (Marina Duarte), Melhor Figurino, Melhor Iluminação e Melhor Atriz Coadjuvante para Natascha Falcão, que venceu em sua categoria.

Com cenário relativamente simples, um boneco sentado com uma tenda sobre ele, o espetáculo se baseia em jogos de luzes para definição de cada parte da história. Esse cenário se completa com o figurino, também criado pelo diretor Moncho Rodriguez, com vestidos volumosos e desgastados, que nos mostra todas as angústias vividas de cada etapa da trama.

As máscaras feitas de meias e de linhas compõem muito bem o figurino, nos dando uma visão para essas personagens de senhoras desgastadas pelo vazio do deserto e principalmente pelo vazio humano.

Estruturando as cenas, vemos objetos cênicos que pontuam as personalidades de cada personagens, como a panela, novelos de lã e cestos.

A direção de  Moncho Rodriguez cumpriu bem seu papel na história, sem muitas novidades apresentadas.

O elenco composto por Marina Duarte, Natascha Falcão e Priscila Danny, nos mostrou um bom entrosamento cênico e cada uma com uma propriedade muito grande de cada personagem apresentado.

Podemos destacar a trilha sonora de Narciso Fernandes, que foi construída, e muito bem por sinal, para pontuar cada momento do espetáculo, e no universo de cada personagem, bem como suas partituras de gestos e intenções.

Fiquem ligados nas próximas apresentações do espetáculo que teve sua temporada no Rio de Janeiro prorrogada. Mas, depois a peça deve seguir pelo Brasil, procurem ‘Luas de Há Muito Sóis’ nas redes sociais e bom divertimento.

Por André Lamare