A Disney vem em uma fase de redenção com as histórias de suas princesas. Antes, meras donzelas indefesas, hoje precisam corresponder ao apelo do público para a representatividade do poder feminino. E, dessa forma, o girl power aos poucos vai tomando a frente dos filmes do gênero, em detrimento da figura do príncipe salvador – que, convenhamos, historicamente foram reproduzidos como necessários, mesmo quando não eram. Filmes como “Moana” e “Frozen” são exemplos contundentes de como a figura da princesa independe do príncipe encantado para ser construída, firmando as personagens femininas como protagonistas de suas próprias histórias.
E aqui está “Malévola“, a antes bruxa má, tornou-se queridinha de muitos ao ser encarnada por Angelina Jolie, em um filme que traz a outra face da história, mostrando o lado da vilã. No filme, a mulher é o centro das ações (através de Malévola e Aurora) e ocorre a desmistificação da história clássica, onde o príncipe encantado é um salvador e emana um amor “repentino e verdadeiro” – aspecto clichê dos contos de fada. A trama guia-se numa linha de afeto maternal entre as protagonistas. O mesmo afeto dá base para a história de“Malévola: Dona do Mal”, que chega nesta quinta (17 de outubro) aos cinemas.
A relação estabelecida entre as personagens, torna-se o estopim para a trama da nova história. Contudo, há um distanciamento entre ambas as personagens no decorrer do filme, e essa relação não ganha em profundidade. Mas o grande problema do longa, no entanto, não está nas personagens conhecidas e sim na introdução das novas, sejam mocinhos ou vilões.
O primeiro ponto é o argumento fraco, que é revelado no meio do filme em um diálogo raso, para legitimar as ações de vilania da Rainha Ingris (Michelle Pfeiffer) – basicamente ela possui medo da possível ameaça que Malévola e os Moors representam. E o segundo ponto está na introdução da origem de Malévola, que, apesar de melhor trabalhado, e muito conveniente e inventivo dentro do que conhecemos sobre a personagem no primeiro filme. E esse conjunto de fatores levam a tramas sem aprofundamento – e até mesmo as tentativas de agregar algo a histórias são falhas devido aos diálogo preguiçosos. Enquanto isso, propositalmente ou não, alguns personagens, como no caso príncipe Phillip (Harris Dickinson), não possuem papel contundente em momento algum na trama – no caso de Phillip, chega a ser irritante como ele não enxerga nada que está ocorrendo a sua volta, e a troca de ator não ajudou coisa alguma.
Apesar disso o girl power se faz visível, temos duas mulheres muito determinadas, destemidas e fortes, sejam para o bem ou para o mal. Enquanto a rainha transita entre elegância e mau caratismo, Malévola usa a casca de uma pessoa má para disfarçar o afeto e o apego por aqueles a quem ama. A ternura fica por conta de Aurora, que por sua vez, pouco influencia na história – ela é uma espécie bengala na qual o roteiro se apoia para criar as situações.
Os aspectos técnicos são os pontos positivos do filme. Nesse quadro se destaca todo o trabalho visual, entre eles, efeitos, figurinos e maquiagem, além de uma boa utilização das cores para compor os ambientes e as cenas. A direção de Joachim Rønning, por sua vez, sabe utilizar esses recursos para impactar o público. Vale ressaltar também a trilha sonora, que compõe de forma pontual todas as passagens, tendo papel fundamental na transmissão das emoções – há uma dinâmica boa entre cores, trilha e emoção refletida nas cenas.
O clima geral desse longa traz um aspecto diferente do filme original. Enquanto o anterior carregava um teor de vingança mais pesado por parte de Malévola e do Rei em detrimento a qualquer tom político ou de poder, em “Dona do Mal“, a política e a vingança andam lado a lado. A manutenção de poder é tão importante na história quanto o ataque a minoria diferente. E, enquanto as raças derramam sangue, os diálogos entregam discursos genéricos de convivência pacifica, funcionais para o público ao qual se destina a obra.
No geral, é com pesar que ressaltamos que “Malévola – Dona do Mal” é um filme desnecessário pela forma como foi realizado, principalmente pelas escolhas do roteiro. Angelina Jolie, Ellie Fanning e Michelle Pfeiffer entregam o melhor de si em cena e tornam a experiência um pouco mais agradável. Mas isso não basta para quem espera um grande filme ou algo melhor que o anterior.
Imagem e Vídeo: Divulgação/Walt Disney Studios
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.
2 Comments