Aprecie boa fotografia e direção, na interessante trama de “Moneyboys”
Alguns diretores fazem filmes para si próprio, outros tem a decência de saber agraciar o público com uma boa perspectiva, ao menos visual, do que se propõe a entregar. Particularmente, prefiro o segundo tipo, mesmo quando a trama é complicada.
“Moneyboys” não é um filme com características de cinema popular, a proposta da direção são longos planos, na maioria das vezes utilizando câmeras fixas, que dão tempo para o expectador sentir o personagem em tela, mesmo quando este nada fala. E, ainda que toque em um assunto onde o comum é apelo sexual, a obra foge completamente do estereótipo e compensa com sedução, em uma trama de personagens complexos e dramática.
Nascido de uma aldeia tradicional, Fio encontrou na prostituição a forma de ganhar a vida. Apesar de auxiliar sua família, os mesmo não aceitam sua condição e o tratam como um pervertido. Enquanto isso, Fio ainda lida com um amor passado, que abandonou e também com um novo sentimento que nasce. Mas, no meio dessa vida proibida em seu país, encontrar uma saída que não lhe pese a consciência é seu principal dilema.
Se há algo em que “Moneyboys” se destaca, claramente é sua fotografia. Um deleite de quadros bem trabalhados e iluminação bem postos. Os planos são longos e intensos, utilizando-se principalmente da câmera parada. Mas, há variações para planos sequências bem orquestrados. Percebe-se o cuidado com o enquadramento dos cenários, criando backgrounds que saltam aos olhos e que dividem bem a tela.
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Por sua vez, a direção reflete esses longos quadros com espaço para os atores em cena. Diálogos longos ou curtos possuem respiro para percebermos a na mudança de postura dos personagens durante a passagem, seja em tensão crescente, sedução, conflito ou alivio.
Desse modo, destacam-se os atores, que possuem tempo para passear por diversos sentimentos e o fazem bem. Não há nada de extraordinário, mas existe sensibilidade latente em entender o que se passa naquelas vidas e transmitir para o expectador.
Um final que deixa um gostinho amargo para quem gosta de felizes para sempre
Contudo, a narrativa peca por entregar menos do que poderia a essa trama. O filme caminha muito mas, no momento de encontrar uma resolução, a mesma pouco muda a perspectiva de seu protagonista. O arco aparentemente não fecha. É como se o vilão imaginário, uma vez que seria a própria mente do personagem, ganhasse o jogo. A quebra de expectativa pode não agradar a maioria. No entanto, inegavelmente é corajoso do roteiro tal opção. Assim como, é corajoso como o roteiro construiu um filme deste sem apelos sexuais excessivos.
“Moneyboys” é um filme para apreciar sem pressa. É um filme de conflito do personagem com sua própria realidade, onde nem sempre recebemos dele a resposta que esperamos. Com mais qualidades que defeitos, é uma ótima pedida para aqueles que apreciam um bom trabalho de fotografia e direção. Também é um filme que toca, de forma menos aprofundada do que se imagina e sob a perspectiva de outra cultura, a relação ao preconceito e vivências LGBTQIAP+.
O filme “Moneyboys”, é um dos longas que estão em exibição no Festival do Rio, que acontece entre os dias 5 e 15 de outubro.
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