A ficção cientifica serve para alertar e para causar reflexão. As obras literárias e as cinematográficas desse gênero estão há muito tempo mostrando as diversas possiblidades de destino para a raça humana, e a maior parte delas é pessimista. Claro que há aqueles filmes e livros sci-fi que enveredam por utopias onde a sociedade evoluiu positivamente, o que melhora a vida das pessoas no planeta e na galáxia. No roteiro do novo filme da Netflix, “O Céu da Meia-Noite”, há um pouco desses dois extremos: enquanto a terra entra em um colapso ambiental que começa a matar todos os seres vivos, um grupo de astronautas está fazendo uma viagem de volta depois de visitar um planeta que pode ser um novo lar. Ou seja, em solo se vê o pior de uma espécie que destruiu seu habitat, já no espaço, se contempla todo o avanço da ciência e da inteligência humana.
Contudo, o filme dirigido e estrelado por George Clooney não é apenas uma peça de análise social e ambiental. Há ainda um elemento dramático que fala de relacionamentos humanos. O cientista interpretado por Clooney deixa a mulher e a filha para se dedicar às suas pesquisas, e consegue sucesso na carreira sendo o responsável pela descoberta do planeta que substituirá a Terra, mas, por causa disso, torna-se um homem solitário em seus últimos momentos de vida – ele possui uma doença terminal. A astronauta Sully (Felicity Jones), por sua vez, além de ter a missão de fazer o reconhecimento do planeta que proporcionalizará a existência de milhões, ainda carrega uma nova vida dentro de si. Ela espera uma filha de seu companheiro Adewole (David Oyelowo). De novo, os extremos são apresentados e ditam os caminhos dos personagens.
O roteiro de Mark L. Smith, adaptando o livro de Lily Brooks-Dalton, usa a vida e a morte para construir uma história que as vezes escorrega em obviedades e clichês, mas que consegue emocionar, principalmente em seu final. As atuações do elenco também ajudam nas sensações cíclicas de desolação e esperança, respectivamente representados por Clooney e Jones: ele tentando sobreviver para avisar à tripulação da nave que a Terra não é mais habitável, e ela explorando e definindo caminhos para uma nova vida.
Com esses elementos “O Céu da Meia-Noite” se afasta da frenética Hollywood para se aproximar de um cinema europeu e seus planos lentos e contemplativos. As poucas cenas de ação presentes até que geram tensão, no entanto, acabam ficando deslocadas em um filme que não precisava delas. Talvez, os produtores ficaram com medo de uma obra “parada” demais para os padrões Netflix e exigiram um pouco de movimento. Não queriam um novo “Solaris”, afinal. O poder de seu diretor pode ter freado as pretensões comerciais e salvado a obra de cair no vazio dos computadores responsáveis pelos efeitos visuais. O resultado é positivo dentro do espectro de produções atuais que apenas usam da ficção cientifica para mostrar monstros e impossíveis explosões barulhentas no espaço. Além disso, serve para colocar ainda mais em discussão as questões ambientais que tantos querem ignorar. Isso é importante, já que ainda não foi inventada uma nave que possibilite viagens para outros planetas, caso a destruição da natureza force uma retirada às pressas.
Vídeo e Imagens: Divulgação/Netflix
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