Emblemática figura da política britânica, Winston Churchill já apareceu no cinema e na televisão tomando de empréstimo corpos de diversos atores. Entre os exemplos recentes, nomes consagrados da indústria como Brian Cox – “Churchill” (2017) -, Michael Gambon – “Churchill’s Secret” (2016) -, Timothy Spall – “O Discurso do Rei” (The King’s Speech, 2010) – e Brendan Gleeson – “Tempos de Tormenta” (Into the Storm, 2009) – incorporaram o singular primeiro-ministro. Nenhum deles, contudo, alcançou sucesso próximo ao de Gary Oldman. Vencedor do Globo de Ouro no último domingo (7) por “O Destino de uma Nação” (Darkest Hour), o veterano londrino desponta como favorito na corrida para ganhar seu primeiro Oscar.
No longa-metragem, ambientado em maio de 1940, Oldman vive um Churchill já idoso, às vésperas de tornar-se chefe do poder executivo. A Grã-Bretanha enfrentava, à época, um dilema: continuar a luta contra Hitler ou negociar um tratado de paz? Contrariando seu partido, liderado pelo enfraquecido Neville Chamberlain (Ronald Pickup), o primeiro-ministro mantém firme sua defesa da resistência, evidente em seus memoráveis discursos.
A habilidade discursiva do estadista, por sinal, recebe destaque ao longo do filme. Durante mais de duas horas, somam-se gritos, resmungos, gesticulações. Não se trata, porém, de uma simples tentativa de copiar as peculiaridades da figura histórica. Antes, Oldman entende o próprio Churchill como um grande orador e ator. Sua performance, então, resulta em uma verdadeira troca, na qual as particularidades do intérprete confundem-se com as da pessoa interpretada. Essa viva simbiose só se torna possível graças à maquiagem de Kazuhiro Tsuji – indicado ao Oscar por Norbit e Click –, cujas próteses misturam-se completamente à pele sem, contudo, chamarem atenção para si, e à fotografia de Bruno Delbonnel – indicado ao Oscar em quatro oportunidades –, cujos jogos de luz e closes criam um protagonista multifacetado e rico em dramaticidade.
Ao passo que a personagem principal se destaca, as secundárias, muito por conta do roteiro de Anthony McCarten, desaparecem. Mesmo roteirista do fraco “A Teoria de Tudo” (The Theory of Everything, 2014), McCarten demonstra ter aprendido com alguns erros do filme anterior, mas repete outros. Por um lado, não tenta, como fez antes, abranger toda a vida de seu protagonista. Em vez disso, escolhe, acertadamente, um recorte temporal bem delineado. Por outro, no entanto, as representações de Clementine Churchill (Kristin Scott Thomas), do Rei Jorge VI (Ben Mendelsohn) e da tipógrafa Elizabeth Layton (Lily James) mais parecem rascunhos, dada a sua falta de tridimensionalidade.
Munido de um roteiro irregular, o diretor Joe Wright, conhecido por suas adaptações literárias – “Orgulho e Preconceito” (Pride & Prejudice, 2005), “Desejo e Reparação” (Atonement, 2007) e “Anna Karenina” (2012) – conduz o filme com notável austeridade. Tamanha rigidez formal pode ocasionar, em momentos, uma experiência enfadonha. Para contornar esse risco, entretanto, a montagem de Valerio Bonelli e a trilha musical do vencedor do Oscar Dario Marianelli tentam ao máximo ritmar a narrativa.
O longa-metragem encaixa-se, por fim, em um grupo de produções cujo objetivo maior parece claro: conquistar uma indicação ao Oscar. Geralmente inspirados em emocionantes biografias ou relevantes eventos históricos, os populares “Oscar baits” recebem esse nome porque funcionam como “iscas” para os membros da Academia. Em outras palavras, “O Destino de uma Nação” limita-se a seguir com competência um certo modelo convencional de cinema, reservando, dessa forma, pouco espaço para inovações narrativas e estéticas. Ainda assim, não há como contestar seus méritos técnicos, que devem render-lhe ao menos um prêmio na cerimônia de março.
*O filme estreia dia 11, quinta-feira.
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