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Crítica

Crítica: Occidental

Tentativa Frustrada

Usando um formato no qual não estamos mais habituados, a comédia francesa Occidental, escrita a dirigida por Neïl Beloufa, é um lobo em pele de cordeiro. Após ler a sinopse, você imagina ser uma coisa, mas é completamente diferente. Você espera determinados acontecimentos, que se assemelhem a realidade, mas eles não acontecem. Pelo menos não como deveriam. Você espera rir de determinadas situações, mas acaba preso num marasmo de 1h13.

A trama se passa em um hotel de duas estrelas que dá título à produção. O italiano Giorgio ou “Gigi, O Amoroso” (Paul Hamy), entra para reservar a suíte nupcial para ele e seu parceiro. Antes que Antonio (Idir Chender) chegue, Gigi joga seu charme para a recepcionista, Romy (Louise Orry-Diquéro) que conta a ele sobre o funcionamento do hotel. Além deles, mesmo em baixa temporada, o local ainda conta com um grupo de ingleses bêbados, que estão na cidade para uma despedida de solteiro, e um senhor, M. Dubreuil (Geoffrey Carey), com sua acompanhante.

Quando Antonio chega, Diana (Anna Ivachef), a gerente do Hotel Occidental,  acompanha o movimento dos dois e passa a desconfiar de ambos. Ela chama a polícia para resolver o caso, e dada as circunstâncias e os protestos acontecendo em toda Paris, incluindo em frente ao hotel, eles se “desfazem” da suspeita da gerente. Assim, com uma recepcionista iludida, que narra a história e  Khaled (Hamza Meziani), um funcionário submisso, Diana terá que assumir o controle para descobrir quem são o misterioso casal e garantir a segurança do seu estabelecimento.

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Escrito e dirigido por Neïl Beloufa o roteiro usa o ambiente e seus caricatos personagens para retratar e questionar, de maneira subliminar, o momento social. Mas ele o faz tão subentendido, mas tão nas entrelinhas que quase ninguém repara. Também vale dizer que se o conceito de comédia francesa mudou, não ficamos sabendo, afinal não há motivo alguns para rir durante o filme. A ideologia de que as aparências enganam funciona em partes, mas como base narrativa acabou virando um alicerce com areia da praia. O jeito jocoso como é trabalhado o texto soa mais como preguiçoso do que intelectual. Nisso ele conseguiu provar que o que parece, nem sempre é.

Sua direção segue uma demagogia televisiva, sempre enquadrada exclusivamente por pontos fixos. A movimentação fica por conta do regular elenco e a forma como os planos se encaixam dentro da narrativa visual. Em resumo, é pouca “ação” e muito dialogo. Diálogos demasiadamente desnecessários. Toda essa essência deixa o resultado final como uma novela mexicana e canastra da década de 80. Contudo é possível perceber que Neïl tem um bom olhar se tratando de planos fixos, mesmo que ele não tenha conseguido executá-los de maneira crível para narrar essa história visualmente.

Um ponto superinteressante agregado a proposta é o visual do filme que se mantem fiel. Visualmente é como se o Hotel Occidental tivesse parado no tempo. Para sermos mais exatos, entre o final da década de 70 e início dos anos 80. É nessa linhagem que são construídos toda a linguagem artística. Começando pelo formato da imagem em 4:3 (quadrada), as roupas de largas e chamativas com padronagens e muitas cores. Na arquitetura e na decoração do hotel temos um enorme peso visual. E, por fim, na própria maneira como os atores contracenam. Todos eles seguem uma linha caricata de interpretação não natural. Deixando de lado a fluidez naturalista os atores apresentam características típicas da base das mecânicas de ação em suas interpretações. Todos seguem a unidade, então não há o que chamamos de destaques, o que faz ser gratificante ao filme.

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Outro ponto válido na produção é seu departamento de som. Existe uma dinâmica muito bem realizada afim de completar-se através das transições de cenas. Já quando há um corte brusco, a edição de som de Arnaud Ledoux teve o cuidado de casar a quebra dos sons nas cenas exatamente com o corte seco da montagem de Ermanno Corrado. A trilha sonora de Grégoire Bourdeil e Alexandre Geindre é literalmente a melhor coisa de todo filme. Porém, o que é bom sempre pode dar um jeito de piorar. Sem ela, o filme muito provavelmente, essa seria uma produção para tirar um cochilo. Contudo, sua melodia unindo o rock e o eletrônico para dar o ar de suspense e ação não é encaixada nos momentos certos. Isso faz com que as sequencias fiquem perdidas e sem força. Aí cabe ao espectador escolher se foca na trilha ou na cena. Nós ficamos com a trilha.

A impressão que fica é que a produção segue o estilo independe, mas não por não ser de uma empresa conhecida, mas por não ter tido dinheiro suficiente para fazer que as coisas fossem críveis. O hotel parece ser cenário grotesco de uma pobre emissora de televisão. Os efeitos visuais são muito falsos e há uma enorme falta de justificativa para a obra como um todo. Se há uma ideologia cult a ser mostrada como uma crítica social em “Occidental”, há aí um grande erro “Accidental”. Nem a questão do “telefone sem fio” unido ao “quem conta um conto aumenta um ponto” chegou a funcionar. Esperou-se muito de quem não havia o que oferecer.

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* Filme visto no Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro 2017. Não há trailer com legendas em português e nem previsão de estreia no Brasil. 

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Paulo Olivera é mineiro, Gypsy Lifestyle e nômade intelectual. Apaixonado pelas artes, Bombril na vida profissional e viciado em prazeres carnais e intelectuais inadequados para menores e/ou sem ensino médio completo.

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