O universo dos musicais ganha mais uma opção para jovens e adolescentes. Em curtíssima temporada no Rio de Janeiro, “Os melhores momentos das nossas vidas – O musical” traz ao público muitas músicas que marcaram época em um passeio pelas décadas. Apresentando uma série de referências e informações interessantes para futuros apaixonados por boa música.
O trabalho segue a tendência teatral atual, buscando se apropriar da linguagem musical para contar a história de um grupo de jovens amigos de escola que se encontram e, ao acharem uma velha caixa de CD’s começam a relembrar clássicos nacionais e internacionais. Misturando as histórias desses amigos com a dos artistas, se conta uma história de amizade, parceria e romance. E além disso, mostram como a música e a história se complementam, relembrando fatos marcantes no Brasil e no mundo.
Uma pegada social e política foi presente em algumas cenas, fosse em breves passagens onde criticam o atual momento da arte no Brasil e a falta de fomento e incentivo, ou fosse quando mostravam a importância da música como instrumento político frente as mazelas sociais que ainda vivemos, e por isso merece destaque. Ao som da Legião Urbana se dá um dos momentos mais interessantes do espetáculo, mostrando o trabalho dos atores para além do ar um pouco caricato com o qual a peça é levada. A iluminação também auxilia na criação de uma atmosfera que envolve o público na mensagem que é passada claramente.
O respeito a memória e a história de Renato Russo, Cazuza e Mamonas Assassinas é encantador, e apresenta de forma carinhosa esses nomes a muitos jovens que não tiveram a sorte de desfrutar de suas carreiras. Por mais que muitos nomes importantes sejam lembrados neste musical, a narrativa desses três é destacada para além de seus hits.
No entanto, possivelmente devido ao curto tempo de montagem do trabalho, o espetáculo ainda tem ares prematuros. Apesar de visivelmente talentosos, os jovens atores cometeram falhas que podem ser facilmente atribuídas ao nervosismo ou à carência de um período um pouco mais longo de preparação e ensaio.
Sobre o trabalho de voz é perceptível que o elenco se encontra em diferentes maturidades. Havendo alguns destaques positivos, mas também apresentações que precisam ser aprimoradas, inclusive quanto ao alcance vocal do ator/atriz para determinada música. Em certos momentos a falta de um trabalho mais consolidado ou músicas melhor selecionadas para o cantor(a) escolhido dão um ar de amadorismo ao produto final.
Coreograficamente o espetáculo traz composições simples mas que funcionaram devido ao número de atores no espaço cênico. Talvez em um palco maior não tivessem o mesmo efeito, mas na apresentação de estreia deu certo. Alguns errinhos também foram perceptíveis, reforçando a ideia de que o grupo precisa de um pouco mais de tempo para amadurecer o potencial da peça.
Ainda sobre o lado musical da apresentação, a banda acompanhando ao vivo as cenas é uma escolha feliz da direção. Mas muitas vezes se sobrepunham às vozes dos atores, dificultando a compreensão das letras. Assim, por conta de pequenos erros no ajuste dos volumes dos microfones a banda atropelou os cantores em diversos momentos. E este é um aspecto que merece atenção nos ensaios futuros.
O roteiro também poderia ser melhorado, pois tem um potencial informativo, como já falado, trazendo ao público mais jovem algumas referências importantes das décadas de 80, 90 e 2000. A linha condutora (o passeio por essas décadas através da música) fica muito bem desenhada, mas os ganchos que levam de uma música a outra por vezes são fracos. Dando, no contexto geral, uma sensação de que as músicas vieram antes do roteiro, e não o contrário. A classificação indicativa da peça também poderia ser mais baixa com alguns pequenos ajustes, levando a mensagem à corações ainda mais jovens e criativos.
As atuações poderiam ser repensadas. Aqui não se questiona o talento do elenco, mas a opção por uma atuação caricata. O texto é falado de forma ritmada por todos em cena, e existe uma tendência exagerada às caretas, deixando o contexto um pouco bobo. Por mais que o espetáculo seja direcionado à adolescentes e interpretado por jovens adultos, não há a necessidade desta opção para todos os personagens.
Um aspecto muito positivo do trabalho é a iluminação, que não utiliza muitos recursos mas consegue entregar um resultado de muita qualidade, de forma precisa destacando os personagens e melhorando a história contada.
“Os melhores momentos de nossas vidas – O musical” é um trabalho com bom potencial, mas ainda em processo de maturação. Mas é sim uma opção bacana para que os jovens conheçam um pouco mais sobre nomes importantes na história da música. Vale a pena ser assistido, mas sem grandes pretensões (especialmente por parte do público adulto).
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.